Capítulo 4 Isso acaba aqui!

A bochecha de Rosanna estava vermelha com uma marca vívida onde a mão de Maia atingira.

Congelada em incredulidade, ela mal ouviu a voz de Maia ecoando, incisiva como uma lâmina. "Quem te deu o direito de mexer nas minhas coisas?"

A expressão de Jarrod estava contorcida em choque, seus olhos se obscurecendo em fúria. Num movimento impulsivo, ele se colocou à frente de Rosanna para protegê-la.

Bastou olhar para o rosto da irmã, cheio de lágrimas e cada vez mais inchado, para que algo explodisse dentro dele, o levando a cerrar as mãos fortemente.

Ter visto Maia atacando Rosanna deixou o homem enfurecido.

Certo de que ela não tinha respeito algum por ele, ele iria fazê-la obedecer, mesmo usando força. Nesse dia, ela pagaria por esse desrespeito descabido!

Prestes a bater nela, Jarrod ergueu a mão, mas Maia agarrou o pulso dele, o impedindo de agredi-la, e o empurrou num movimento forte e fugaz.

Jarrod cambaleou para trás, quase perdendo o equilíbrio. Desnorteado, ele encarou a garota diante dele, indignado com a estranha que ela havia se tornado.

A Maia inocente que ele se lembrava sempre o seguia pela casa quando ele ia até lá, como uma sombra constante. No entanto, agora essa versão dela não existia mais. Quatro anos atrás das grades haviam moldado uma pessoa mais fria, alguém independente do apoio de uma família.

De onde veio toda essa força? Ele não sabia dizer.

Nos seus primeiros dias na prisão, Maia era perseguida e sofria abusos constantes, sempre com novos hematomas surgindo antes mesmo de os antigos terem a chance de cicatrizar.

Mesmo assim, ela nunca pedia ajuda, tampouco abaixava a cabeça.

Um dia, ao ser levada ao limite, ela acabou explodindo. Em meio ao seu surto de raiva, ela cravou os dentes na líder da prisão, a derrubou no chão, e depois começou a golpeá-la incessantemente, só parando quando os guardas chegaram para separá-las.

Com o tempo e o treinamento implacável de Zoey, Maia aguçou seus instintos e se tornou uma lutadora que ninguém ousava provocar.

Por fim, as ameaças desapareceram, e ela conquistou seu espaço e respeito deles.

Jarrod permanecia entre Maia e Rosanna, seus olhos penetrantes e inabaláveis. "Maia, você perdeu a cabeça?! São só umas roupas velhas e tralhas aleatórias, nada que valha uma briga! Como teve a coragem de bater em Rosanna por algo tão banal? Peça desculpas agora mesmo!"

O descontrole abrupto de Maia pegou Sandra de surpresa. Após uma breve pausa, ela envolveu Rosanna nos seus braços, a preocupação estampada no rosto.

Lançando um olhar furioso para Maia, ela exclamou: "Fui eu que dei permissão para jogar suas coisas fora! Rosanna só queria ajudar. Ela iria comprar tudo novo para você não ser atormentada pelo passado! Mas e você? Além de ter feito pouco caso, simplesmente bateu nela! Depois de tudo, nunca pensei que você se rebaixaria a esse nível. Maia, você me decepcionou para valer!"

Uma risada fria escapou de Maia, achando graça das palavras da mulher.

Quatro anos atrás, essas mesmas palavras haviam sido proferidas depois que a incriminaram.

Naquela época, eles também protegeram Rosanna. E ela? Fora o alvo de toda aquela confusão.

Se alguém merecia se sentir decepcionado, esse alguém era ela, que já havia acabado com todas as esperanças que tinha pela família Morgan.

Pensando nisso, ela fixou os olhos em Sandra, a mulher que costumava chamar de "mãe".

Houve um tempo em que Maia a amava e respeitava, mesmo que ela raramente demonstrasse consideração. Agora, esse amor se transformou numa adaga que perfurava seu peito.

"Você sempre sabe que não gosto que mexam nas minhas coisas, e mesmo assim deixou ela jogar tudo fora. Ao menos verificou se a pulseira que Vicki me deu estava entre elas?", disse Maia, sua voz firme e contida.

Sandra sempre estava ocupada e raramente prestava atenção à vida de Maia, mas sabia dessa exigência claramente.

Contudo, quando se tratava de Rosanna, o julgamento da mulher se distorcia. Anos de culpa por ter sido ausente na vida da filha a fez compensá-la até demais. Sempre que a garota queria algo, ela nunca negava.

Por mais de dez anos, Maia vivia a vida que deveria ter sido de Rosanna - pelo menos era o que Sandra acreditava. Então, que mal havia em jogar fora algumas coisas suas?

Mesmo que Rosanna tivesse roubado a joia da Joalheria Radiant, Sandra estava convencida de que Maia deveria levar a culpa. Esse pensamento, por si só, anulou qualquer culpa que Sandra pudesse sentir por ela.

"Vou te lembrar qual é o seu devido lugar, Maia. Você não é uma de nós, apenas foi criada pela nossa família, nada mais. E quanto à pulseira de Vicki, ela sempre era destinada a uma Morgan autêntica. Mesmo que ela estivesse em algum lugar dessa casa, Rosanna teria todo o direito de ficar com ela. Quem você pensa que é para exigi-la? Se Rosanna quisesse simplesmente queimá-la, ainda seria um direito dela."

Diante dessas palavras cruéis, uma angústia profunda se apoderou de Maia.

Ela poderia cortar vínculo com todos nessa casa, menos com Vicki, que a amava, a protegia e a fazia se sentir pertencente a essa família.

Agora, Maia não havia conseguido proteger a única coisa que as mantinha unida.

Sem conseguir lidar com isso, a dor perfurava seu coração, afiada e implacável.

Parado por perto, Jarrod soltou uma risada cruel. "Então foi por aquela bugiganga que você surtou... Me deixe adivinhar: você está quebrada e veio atrás do que pudesse encontrar para penhorar!"

Embora tivesse visto a pulseira apenas uma vez, ele achava que era só uma bijuteria de feira, jamais imaginando que tivesse algum valor real.

Com um sorriso de desdém, ele puxou algumas notas da carteira e as jogou nos pés dela. "Isso é suficiente para sua bugiganga? Pode ficar com o que sobrar. Esse é meu ato de caridade com você."

Os olhos de Maia ardiam de raiva enquanto ela encarava as pessoas que um dia chamou de família.

Houve um tempo em que ela achava que lhes devia toda a gratidão. Afinal, eles a criaram por dezessete anos.

Essa crença a levou a ajudá-los nos seus anos mais sombrios sem qualquer hesitação, mas agora essa ilusão havia caído por terra.

O que lhe foi tirado ela poderia recuperar depois. E quanto à família Morgan? Eles escolheram a crueldade, então era hora de eles aprenderem que ela não era de perdoar e esquecer facilmente.

Com sua fúria se abrandando, Maia pegou as notas que Jarrod jogou e começou a rasgá-las antes de jogá-las no rosto dele, um sorriso sarcástico esboçando seu rosto.

"Fique com seu dinheiro sujo. Prefiro ficar sem nada do que aceitar qualquer coisa de você." Com isso dito, ela se virou, caminhando em direção à porta sem olhar para trás.

A fúria contorcia o rosto de Jarrod enquanto ele cerrava os dentes, dominado pela humilhação.

Então, ele apontou o dedo para as costas de Maia, que se afastava. "Você vai se arrepender disso, sua ingrata! Sem nós, você não é nada! Tenho certeza de que logo você voltará rastejando!"

O rosto de Sandra estava vermelho de raiva, sua voz se elevando. "Fomos te buscar na prisão, Maia! Por pura generosidade nossa! Ninguém te forçou a ir embora, você fez isso por livre e espontânea vontade, então nem se dê ao trabalho de voltar. Essa escolha foi sua, e isso acaba aqui!"

Uma risada fria e sem humor ecoou de Maia. A essa altura do campeonato, Sandra ainda insistia em se fazer de vítima? Sua audácia chegava a ser hilária!

Virando-se lentamente, Maia encarou a família com um olhar gélido. "Parem com esse fingimento. Vocês não enganam ninguém. Foram vocês que chamaram a imprensa. Era para ser uma recepção cordial? Ou só um espetáculo para que vocês bancassem os santos diante das câmeras? Vocês sabiam muito bem o que estavam fazendo."

Após dizer isso, ela foi embora em passos firmes.

Atrás dela, um choque de realidade se impôs, deixando a família Morgan sem qualquer reação, suas máscaras se rachando completamente.

Rosanna recostou o rosto no ombro de Sandra, a voz trêmula em meio às lágrimas. "Isso é tudo culpa minha. Deveríamos ter agido como uma família de verdade."

Em vez de refletir sobre essas palavras, Jarrod e Sandra se concentraram em confortar a filha, agindo como se Maia nem existisse.