"Não mamãe, descanse. Eu faço o almoço. Vou fazer a faxina lá na casa da dona Perpetua. E de lá vou comprar seu remédio."
"Filha não precisa fazer isso. E como foi na escola?"
"Claro que precisa mãe. E foi tudo ótimo na escola, passei nas provas finais com ótimas notas."
Mamãe não responde mais, com certeza pegou no sono. Termino de fazer um ensopado para ela, e assim ela ficar forte e melhorar logo. Mamãe pegou tuberculose e não contou antes, simplesmente ficou trabalhando, fazendo esforço e não se tratou. Agora está muito mal da saúde.
"Mamãe, sente-se venha. Vou te ajudar a comer e me arrumar para sair." Mamãe não responde, e não sei o que houve. Sacudo mamãe e continua imóvel. Ligo para os paramedicos, eles chegam rápido.
"Senhorita, infelizmente sua mãe veio a óbito."
"Não, não pode ser. Ela estava conversando comigo a pouco. Ela estava..."
Meu mundo desmoronou, bem ali na minha frente. Não sei o que fazer agora. Eles levaram o corpo de mamãe. E agora estou sozinha no mundo.
Os dias se passam, acontece o enterro de mamãe e me vejo sozinha com as coisinhas dela. Ganhamos esse barraco na favela, porém, aqui posso andar tranquilamente, todos me conhecem. Vou ao ponto para ir ao shopping, espalhar currículos e conseguir um trabalho. Preciso me sustentar né.
Desço as ruas do morro, e chego ao ponto de ônibus, embaixo de seus 32ºC do Rio de Janeiro, sento-me e espero o ônibus passar. Olho pelo aplicativo e faltam vinte minutos até a sua chegada. Aqui nunca esteve tão deserto, sinto até um certo calafrio na espinha. Avisto uma BMW vindo em direção ao ponto, e acho estranho pensando até ser um político, pois nunca um carro assim vem para a ponta do morro. O carro para e fico com muito receio, e abaixo a cabeça.
"Boa tarde, senhorita."
Levanto a cabeça e me deparo com um homem lindo, bem vestido e sentado no banco de trás. "Boa tarde."
"Meu motorista se perdeu, e como pode notar não somos daqui. Pode me indicar para que lado fica Copacabana?"
"Sim, bom meu ônibus já vai passar e estou indo para lá. Se quiser esperar, podem seguir o ônibus e quando eu descer é onde vocês devem estar."
"Nossa, está indo para lá? Deixa que nós a levamos?"
Boa tarde senhorita, pode dar uma orientação ao meu motorista? Precisamos chegar no Centro, porém, como não somos daqui, nos perdemos. - Fala aquele homem bonito, tem aparência de ter no máximo 20 anos, fico em choque com tanta beleza, e pelo sotaque dá para perceber que não é daqui, e nem brasileiro é.
Moça! - Fala ele novamente me tirando totalmente de meus devaneios.
Oi, é... boa tarde... Uhm, posso sim. Desculpas, eu me distraí. O senhor pode seguir nessa direção, quando ver a placa do viaduto, pega a via da direita e segue por ela. Lá na frente vai ver uma estatua bem grande que fica em frente a um posto de gasolina, pega a direita e pode seguir, que chegará ao Centro. - Nem acredito que consegui falar aquilo tudo, com aquele homem me encarando.
Deixa eu me apresentar para você, me chamo Marco. - Ele se apresenta e sorri para mim.
Prazer, eu me chamo Laura. - Digo e retribuo o sorriso também.
Poderia me passar seu telefone, vai que perco novamente e preciso de ajuda. - Ele me pede o telefone e eu nem acredito. Por sorte, ganhei um celular de presente da patroa da minha mãe, anoto o número de telefone em uma folha de meu caderno.
Aqui está Marco. - Entrego a ele, e nem sei o porquê. Por quê entreguei meu número de telefone a um desconhecido? Devo estar louca, mas tem algo nele que me prende a atenção.
Vou te ligar, pode ter certeza. Obrigado pela ajuda e tchau. - Ele se despede, fecha o vidro do carro e segue adiante e eu fico ali olhando aquele carro ir embora e nem percebo que perco o ônibus, mas que droga. E agora, o que vou fazer? Como vou embora? O próximo ônibus é daqui há 2 horas. Estou frita, ainda bem que mamãe hoje vai dormir na patroa dela e não vou ouvir bronca, mas aqui é muito perigoso eu ficar sozinha. Me assusto com meu telefone tocando.
Alô! - Digo com a voz trêmula do medo que estou sentindo.
Oi Laura, é o Marco. Aconteceu algo? Sua voz está estranha. - Me pergunta ele, e algo em mim não me deixa mentir para ele.
É que... que perdi o ônibus olhando o seu carro se afastar, e o próximo é apenas daqui há 2 horas, e estou com medo de ficar aqui. - Digo a ele com um certo desanimo na voz e pensando no que vou fazer.
Não se preocupe, estamos voltando para lhe buscar. Não vou deixar você aí sozinha. - Ele fala e desliga o telefone, nem me dá a chance de protestar. Fico encarando o celular e tentando entender o que acabou de acontecer e ele para novamente em minha frente, abre a porta do carro e me chama.
Venha, está escuro. - Ele sorri, e eu entro no carro sem medo nenhum, era para eu ter medo dele. Meu sexto sentido está me dizendo "corra, fuja"... mas quero ficar, quero ver no que vai dar. Nunca beijei na vida, e sinto que não vou ficar com o status de BV por muito tempo, sinto borboletas no estomago, mas não de um jeito bom. Mas continuo ali, encantada por um completamente desconhecido sentado ao meu lado.
Então, para onde te levamos? - pergunta ele, e noto que o carro encontra-se parado, esperando meus comandos.
Ah, desculpe... eu... eu... Bom pode fazer o caminho que te ensinei mais cedo. - Digo e olho para minhas mãos.
Você é tão linda Laura, - diz ele acariciando meu rosto.
Obrigada. - Digo e olho para ele com vergonha.
Qual é sua idade linda? - Por que ele quer saber minha idade? Será que minto ou falo a verdade?
Eu... eu... eu tenho 17 anos. -Resolvo manter a verdade.
E você tem quantos anos? - pergunto e aguardo ansiosa pela resposta.
Eu tenho 20 anos gata. Você costuma aceitar caronas de estranhos assim com frequência? - Essa pergunta dele me faz corar, e o olho para saber se é uma repreensão ou curiosidade da parte dele.
Não, é a primeira vez, e estou muito envergonhada. Mas, só aceitei porque realmente estava com medo de ficar lá no escuro sozinha. - Digo nervosa o suficiente para ele perceber.
E por que aceitou minha carona? - Ele me olha e aguarda uma resposta.
Porque confio em você. - Confio? Não sei ainda, mas ele está me enfeitiçando, ele cheira tão bem, e o cheiro inunda o carro, meu ser...
Uau, acho isso muito bom. - Continua ele, e se vira para frente.
É, em vez de virar para o lado do posto, pode seguir em frente. No sinaleiro vamos pegar a esquerda e ir até o fim dela. - Digo ao motorista e fico olhando para frente. Seguimos o resto da viagem em silêncio, que só era quebrado quando dava os comandos ao motorista e de repente sinto a mão de Marco sob a minha, e ele a acaricia, fico muito tensa e feliz. Chegamos em minha casa, a rua está tranquila e ele desce do carro junto comigo e vê que está tudo escuro.
Você mora sozinha? - vejo que está intrigado.
Não, moro com minha mãe, mas ela está no trabalho. Você quer entrar? Beber alguma coisa. - Agradeço por ter esquecido o refrigerante que levaria para escola na geladeira de casa. E ele me acompanha.
Aceita beber algo, refrigerante ou água? - pergunto e aguardo ele falar algo. E quando me distraio acendendo a luz da cozinha sinto sua mão me virando e me ele vindo em direção ao meu rosto. Eu travo e viro o rosto pelo reflexo, por que fiz isso? Que saco.
Você não quer me beijar? Porque quero muito sentir seus lábios. - Ele próximo demais de meu rosto.
Quero, é que nunca beijei antes. - Termino de falar e desvio o olhar, tamanha é minha vergonha.
Cara, você está me desestruturando todo. - Ele fala, pega meu rosto e me beija. O beijo mais delicioso e hipnotizante que alguém poderia me dar, assim pensava eu. Mal sabia que estaria entrando em uma cilada. Mas me deixei ser levada por aquele beijo, ele me apertou contra ele, mordia meus lábios e eu deixei escapar um gemido. Nunca havia sentido aquela sensação antes, estava crescendo algo em mim. Consigo raciocinar e desvio dele, e vou até a geladeira e pego água, tomo em um só gole.
Você é perfeita, puta que pariu. Acabei de conhecer você e já estou fascinado, não quero te largar e sinto que necessito muito de você.
Precisamos ir com calma Marco, como você mesmo disse, acabamos de nos conhecer e acabei de ter o meu primeiro beijo e não quero ir além. Preciso que respeite isso, não sei nada de você e... - ele me beija mais uma vez, me tirando o fôlego.
Vou embora, e vou te ligar. Vamos sair amanhã? Para passar o dia juntos e nos conhecer. - Me pergunta com a voz cheia de esperança.
Tudo bem, podemos nos encontrar às 10:00 horas aqui mesmo. Falo para minha mãe que você é da escola, pode ser? - Pergunto a ele.
Tudo para ficar perto de você gata. - Ele me responde, me beija e sai.
Tomo um banho e fico pensando naquela loucura, meu Deus, fiquei louca só pode, não era eu. Nunca fui assim, mas ele tem algo que me encanta. Vou deitar e não consigo parar de pensar em Marco, até que adormeço.