As mensagens eram a prova inegável. A queimadura, os placebos, tudo fazia parte do plano contínuo de vingança. O desespero e a raiva se misturaram, deixando-o nauseado. Como alguém podia ser tão cruel?
O celular tocou. Era Isa. JP hesitou, mas atendeu.
"JP, querido? Como você está se sentindo? Fiquei tão preocupada ontem à noite, você parecia mal." A voz dela era a personificação da falsidade, melosa e preocupada.
"Preocupada?" JP cuspiu as palavras. "Você chama aquilo de preocupação, Isa?"
"Claro que sim! Você se machucou na minha festa. Eu me senti péssima."
"Não minta pra mim, Isa. Eu vi as mensagens. Eu sei que tudo foi planejado."
Houve uma pausa. "Ah, você viu? Que chato. Era pra ser surpresa. Mas e aí, gostou da emoção?"
JP desligou, tremendo de raiva. Ele se levantou com dificuldade, a perna protestando a cada movimento. Precisava sair dali, voltar para Olinda, para longe daquela teia de maldade.
Enquanto mancava pela estrada de terra que levava para fora da fazenda, um carro parou ao seu lado. Não era Isa. Eram homens que ele nunca tinha visto antes, com caras de poucos amigos.
"João Pedro Santos?" um deles perguntou.
Antes que JP pudesse responder, eles o agarraram e o jogaram dentro do carro. Ele tentou lutar, mas eram muitos, e ele estava fraco e ferido.
Levaram-no para um lugar isolado, um manguezal fétido e lamacento. Amarraram suas mãos e o vendaram.
"A patroinha perdeu um anel de noivado muito caro por aqui," disse um dos homens, a voz áspera. "Ela disse que você é bom em achar coisas perdidas. Então, procura aí. Só te soltamos quando achar."
Eles o empurraram para dentro da lama fria e pegajosa. A maré estava subindo. JP sentiu o pânico tomar conta dele. Vendaram-no e o forçaram a procurar na lama por algo que provavelmente nem existia. A água subia, gelada, e o cheiro podre do mangue o sufocava. Ele gritou por ajuda, mas só ouvia as risadas dos homens.
A humilhação era indescritível. Ele se sentia um animal acuado, sujo, desesperado.
De repente, ouviu um carro frear bruscamente. Passos apressados na lama.
"O que vocês estão fazendo com ele? Seus incompetentes! Eu disse para dar um susto, não para matá-lo afogado!"
Era a voz de Isa. Furiosa.
Os homens pareceram surpresos. "Mas, patroa, a senhora disse..."
"Calem a boca e tirem ele daí! Agora!"
Eles o desamarraram e tiraram a venda. JP viu Isa parada na beira do mangue, o rosto pálido, os olhos faiscando de uma raiva que ele não compreendia. Ela não parecia estar se divertindo. Parecia... transtornada.
Ela correu até ele, ajudando-o a sair da lama.
"Você está bem?" ela perguntou, a voz trêmula.
JP estava exausto, coberto de lama, tremendo de frio e febre. Ele não respondeu.
Isa se virou para os homens. "Sumam daqui! E se ele tiver uma única infecção por causa disso, eu acabo com vocês!"
Os homens fugiram apressados.
Isa o levou de volta para a fazenda, em silêncio. Deu-lhe roupas limpas, cuidou da sua febre, que piorara com a exposição ao frio e à água suja do mangue.
Mais tarde, enquanto JP dormia um sono agitado, ouviu vozes do lado de fora do quarto. Eram as amigas de Isa.
"Isa, você está bem? Você quase matou os capangas de tanto gritar."
"É, amiga, qual foi? Achei que a ideia era fazer ele sofrer."
"Será que... será que você está começando a gostar dele de verdade?" perguntou uma delas, a voz hesitante.
JP ouviu Isa suspirar. "Não digam besteiras. Eu odeio João Pedro Santos. Ele só está tendo o que merece."
Mas a hesitação na voz dela, a raiva inesperada no manguezal, plantaram uma minúscula semente de dúvida na mente de JP. Seria possível que, por trás de toda aquela crueldade, houvesse algo mais? Ou era apenas mais um jogo, mais uma camada de sua manipulação? Ele não sabia dizer. Só sabia que estava exausto, física e emocionalmente.