Sofia instalou-se na casa de hóspedes como se fosse a rainha do seu novo castelo. Diogo apresentou-a a mim como se estivesse a fazer a maior das caridades.
"Eles estão finalmente seguros, Ana Luísa. Graças a ti."
As crianças, Mateus e Leonor, olhavam para mim com uma frieza que me gelava os ossos. Um dia, estava a experimentar um vestido para um concerto importante. Leonor aproximou-se.
"A minha mãe diz que a mulher da cidade roubou o nosso pai."
Fiquei sem palavras. Ela tinha apenas cinco anos.
Mateus acrescentou, com uma voz desprovida de emoção infantil: "Mas ele vai voltar para nós. A mãe disse."
Diogo tentava manter as aparências. Trazia-me flores, elogiava a minha generosidade.
"És um anjo, meu amor. A forma como os acolheste."
Mas os seus olhos estavam sempre a desviar-se para a outra casa. As suas noites tornaram-se mais longas, as suas desculpas mais esfarrapadas. "Reuniões de trabalho", "prazos urgentes".
A profanação da minha guitarra foi o início do fim. Mas Sofia não parou por aí.
Uma noite, Diogo e eu estávamos na sala de estar. Uma rara noite em que ele estava em casa. Sofia apareceu à porta, vestindo apenas uma camisa dele, demasiado grande para ela.
"Diogo," disse ela com uma voz fraca, "estou com tonturas. Acho que a minha tensão baixou."
Ele levantou-se imediatamente, a preocupação estampada no rosto.
"Vem, deita-te aqui no sofá."
Ela deitou-se, a camisa a abrir-se subtilmente, revelando a ausência de roupa interior.
"Podes massajar os meus pés? A minha mãe dizia que ajudava a circulação."
E ali, à minha frente, Diogo ajoelhou-se e começou a massajar os pés de Sofia. Ela gemeu de prazer, um som íntimo e provocador, os seus olhos fixos nos meus, cheios de triunfo.
Senti o meu estômago revirar. Levantei-me e fui para o meu estúdio.
Foi nessa noite que encontrei a foto no telemóvel dela. A foto com a minha guitarra manchada.
O choque foi físico. Senti falta de ar. O objeto que simbolizava o início do nosso amor, a minha paixão pela música, tinha sido usado como um adereço pornográfico.
Não era apenas uma guitarra. Era a minha fé, o meu amor, a minha identidade. Tudo profanado.
Naquele instante, algo dentro de mim morreu. A Ana Luísa que amava Diogo incondicionalmente desapareceu.
No seu lugar, nasceu uma mulher fria e determinada.
Peguei no meu telemóvel. Não para ligar a Diogo. Não para chorar com uma amiga.
Procurei o número do melhor advogado de divórcios de Portugal.
"Dr. Almeida? O meu nome é Ana Luísa. Preciso de uma consulta. Urgente."