O meu plano começou a tomar forma. Tinha uma semana. Uma semana para desaparecer da vida de Diogo, da forma mais destrutiva possível. O tempo que ele me disse que ia passar no Porto a supervisionar um novo projeto. Uma mentira, eu sabia. Ele ia passar a semana com Sofia e os filhos.
Na manhã da sua "partida", ele entrou no meu estúdio. Viu a guitarra profanada, que eu tinha limpado meticulosamente, de volta ao seu suporte. Ele não reparou nas cordas novas.
"Vês, meu amor?", disse ele, passando a mão pela madeira. "Como nova. Símbolo da nossa força. Superamos tudo."
A sua hipocrisia era tão espessa que eu quase conseguia tocá-la.
O caos aconteceu três dias depois, num jantar em casa dos pais dele, no Douro. Eu fui, desempenhando o meu papel de esposa dedicada.
Sofia estava lá, claro. A "protegida" da família.
Durante o jantar, ela comeu um canapé com camarão. Eu sabia que ela era alérgica. Vi-a a fazer isso de propósito.
Momentos depois, começou a ter falta de ar. O seu rosto ficou vermelho e inchado.
"O que se passa?", gritou a mãe de Diogo.
Leonor, a pequena atriz, começou a chorar. "Foi a Ana Luísa! Ela deu o camarão à mãe!"
Mateus, sempre o mais calculista, mostrou um pequeno arranhão no braço. "Ela agarrou-me com força quando eu tentei impedir."
Era uma armadilha perfeita. A criança ferida, a mãe a sufocar.
Todos os olhos se viraram para mim, cheios de acusação.
Diogo correu para Sofia, pegando-a ao colo. Olhou para mim por cima do ombro, o seu rosto uma máscara de desilusão e raiva.
"Eu confiei em ti, Ana Luísa. Pensei que eras melhor do que isto."
As suas palavras foram o golpe final. A promessa de confiança incondicional, quebrada sem hesitação.
Enquanto o drama se desenrolava, senti a minha própria garganta a fechar-se. O stress, a traição... o meu corpo reagiu. Comecei a ter um ataque de asma, algo que não me acontecia desde criança. Lutei para respirar, procurei a minha bomba na mala.
Ninguém reparou. Estavam todos à volta de Sofia.
Diogo olhou para mim, a lutar por ar, e o seu rosto endureceu.
"Não tentes manipular a situação, Ana Luísa. Não finjas agora."
Ele virou-me as costas e levou Sofia para o carro, a caminho do hospital. Deixou-me ali, a sufocar no chão da sala de estar dos seus pais.