Tarde Demais Para Perdoar
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Capítulo 3

A forma como Tiago protegeu Carolina, como se ela fosse uma vítima inocente, solidificou a minha perceção.

Ele já não era o meu Tiago. Transformara-se noutra pessoa, alguém que eu mal reconhecia.

"E se eu estivesse a morrer, Tiago?" perguntei, a voz um fio, o desespero a transbordar. "Quem cuidaria de mim?"

Ele olhou para mim com uma crueldade fria, os olhos vazios de qualquer emoção.

"Não digas disparates, Isabela. Estás a ser dramática para chamar a atenção. E francamente, já cansa."

A ignorância dele era uma faca a torcer-se na minha ferida.

Nos dias seguintes, comecei a tratar dos arranjos práticos.

Fui a um fotógrafo. Queria um retrato memorial.

Um retrato onde eu estivesse a sorrir, como se a vida não me tivesse roubado a alegria.

Escolhi um vestido azul claro, a cor da esperança, ironicamente.

Enquanto esperava pela minha vez, vi-os.

Tiago e Carolina.

Entraram no estúdio de mãos dadas, a rir.

Vinham tirar fotografias. Talvez para um anúncio da empresa. Talvez para eles.

Carolina viu-me primeiro.

O seu sorriso vacilou por um instante, mas recompôs-se rapidamente.

Sussurrou algo ao ouvido de Tiago, os olhos fixos em mim.

Ele franziu o sobrolho, olhando na minha direção com suspeita.

Ela estava a instilar-lhe dúvidas, a pintar-me como alguém que escondia segredos.

Tiago aproximou-se, a postura tensa.

"O que estás aqui a fazer, Isabela? Andas a seguir-nos?"

A acusação era tão absurda que quase ri.

"Vim tirar uma fotografia," respondi simplesmente.

"Uma fotografia? Para quê?" A suspeita na voz dele era palpável. Exigia uma divulgação.

Senti o meu coração a acelerar.

O fotógrafo chamou-me.

"Dona Isabela, pode vir agora."

Levantei-me, mas a minha mala caiu ao chão, espalhando o conteúdo.

Um pequeno panfleto do cemitério. E a fotografia a preto e branco do jazigo que eu tinha comprado.

Carolina apanhou-a rapidamente, um ar de choque fingido no rosto.

"Oh, meu Deus, Tiago, olha para isto!" exclamou ela, mostrando-lhe a fotografia.

Tiago olhou para a imagem, depois para mim, a incredulidade a transformar-se em frieza.

"Mas que raio é isto, Isabela? Estás a planear o teu próprio funeral? É mais um dos teus jogos para me fazer sentir culpado?"

Ele não entendia. Nunca entenderia.

"Tiago," supliquei, a voz embargada, "só queria que sentisses remorso. Só um pouco."

O desespero era palpável na minha voz.

Ele riu, um som amargo.

"Remorso? Porquê? Por viver a minha vida? Por ser feliz?"

Senti uma dor aguda no peito, as pernas a cederem.

Caí de joelhos, o mundo a girar à minha volta.

Carolina aproximou-se, o rosto contorcido numa máscara de falsa preocupação, mas os olhos brilhavam com malícia.

Sussurrou, para que só eu ouvisse: "Ele nunca te amou de verdade. E agora, finalmente, vai livrar-se de ti."

Tiago observava-me com desdém.

"Pára com o teatro, Isabela. Não tens vergonha de fazer estas cenas em público?"

O fotógrafo e outra cliente ajudaram-me a levantar, os seus rostos expressando uma mistura de pena e constrangimento.

Mas era tarde demais.

Lembrei-me de outra doença, há muitos anos. Uma infeção renal que me deixou de cama durante semanas.

Tiago não arredou pé do meu lado.

Lia para mim, fazia-me companhia, segurava-me a mão quando a dor era mais forte.

"Vou cuidar sempre de ti, meu amor," prometera ele.

Agora, ali estava ele, a desejar a minha morte, ou pelo menos, o meu desaparecimento.

O fim aproximava-se rapidamente. Senti-o nos ossos, no ar rarefeito que respirava.

            
            

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