A minha condição física piorava a olhos vistos.
Os dias eram passados na cama, a dor uma companheira constante.
Isolamento autoimposto. Não queria que ninguém me visse assim.
Apenas Beatriz vinha visitar-me, trazendo comida e palavras de conforto.
Carolina, no entanto, não me deixava em paz.
Começou a enviar-me mensagens. Provocações.
Fotografias dela com o Tiago, a sorrir, a abraçarem-se na nossa quinta no Douro.
"Estamos a redecorar a casa. Vais adorar as mudanças... ou talvez não," dizia uma das mensagens.
Um dia, recebi uma imagem que me gelou o sangue.
Uma fotografia da velha figueira no jardim da nossa casa de campo no Douro.
A figueira onde tínhamos gravado as nossas iniciais, tantos anos antes.
Na fotografia, a árvore estava marcada com tinta vermelha, como se fosse ser abatida.
Aquele lugar era sagrado para mim.
Levantei-me com dificuldade, vesti-me à pressa e apanhei um táxi para o Douro.
A viagem foi um suplício, cada solavanco a agravar-me as dores.
Quando cheguei, o cenário era de destruição.
O jardim estava revirado, as roseiras que eu tanto amava, arrancadas.
A figueira... a figueira ainda lá estava, mas à volta dela, homens com motosserras preparavam-se para começar o trabalho.
Liguei ao Tiago, a voz a tremer de raiva e desespero.
"O que é que estás a fazer à nossa casa? À nossa figueira?"
Ele respondeu com frieza, a voz distante.
"Estou a modernizar, Isabela. A Carolina tem umas ideias ótimas para o jardim. Aquela árvore era velha e estava a tapar a vista."
"Aquela árvore era a nossa história, Tiago! Como te atreves?"
"A história muda, Isabela. E tu não fazes parte desta nova história."
Carolina apareceu, vinda da casa, um sorriso triunfante nos lábios.
"Oh, Isabela, que surpresa desagradável," disse ela, fingindo inocência.
"Não te preocupes com a árvore. Vamos plantar algo muito mais... chique no lugar dela. Talvez umas palmeiras."
A frustração subiu-me à garganta.
"Tu não tens o direito de fazer isto!" gritei, as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto.
Tiago aproximou-se, o olhar duro.
"Eu tenho todo o direito, Isabela. A quinta é minha. E tu... tu és apenas uma recordação inconveniente."
A dinâmica de poder era clara.
Eu não era nada.