Ricardo e Beatriz, ele de smoking e máscara preta, ela num vestido vermelho esvoaçante e uma máscara de plumas, eram o centro das atenções.
Sofia escolhera um vestido simples, preto, e uma máscara discreta. Sentia-se um peixe fora de água.
Manteve-se num canto, observando.
Ricardo era charmoso, Beatriz era a anfitriã perfeita, rindo e socializando.
Ninguém diria que, horas antes, ela a tinha torturado com compras inúteis.
Em dado momento, um grupo animado começou um jogo de "verdade ou consequência".
Beatriz, claro, puxou Sofia para o círculo.
"A tua vez, Sofia!"
Sofia tentou recusar, mas a pressão do grupo foi grande.
"Verdade ou consequência?" perguntou um rapaz elegante.
"Verdade."
Beatriz interveio. "Muito chato! Consequência! Desafio-te a mostrar o contacto fixado no teu telemóvel!"
Todos riram, esperando algum segredo embaraçoso.
Sofia hesitou. O seu contacto fixado era "Meu Amor". Lucas.
Não queria expor a sua vida íntima ali.
"Vamos, Sofia, não sejas tímida!" insistiu Beatriz, com um sorriso cruel.
Com um suspiro, Sofia pegou no telemóvel e mostrou o ecrã.
"Meu Amor".
Um silêncio constrangedor instalou-se.
Alguém murmurou: "Quem será?"
Beatriz parecia confusa, depois irritada. O seu plano de humilhar Sofia falhara.
Ricardo aproximou-se, o rosto uma máscara de fúria.
Agarrou-a pelo braço e arrastou-a para um canto mais reservado.
"Que palhaçada é esta, Sofia? Inventaste um noivo para me provocar? Para estragar a minha noite com a Beatriz?"
A voz dele era baixa, mas cheia de raiva.
"Não é mentira, Ricardo! Eu estou noiva! O nome dele é Lucas!"
"Ah, claro. E onde está esse Lucas? Porque é que nunca falaste dele?"
"Eu tentei! Mas tu nunca me deixas falar! Ele está em Lisboa, o nosso casamento é no próximo mês!"
Sofia pegou no telemóvel, trémula. "Vou ligar-lhe! Vais ver!"
Discou o número de Lucas. Chamou, chamou, chamou. Caixa postal.
Claro. O fuso horário. Em Lisboa, era madrugada.
Ricardo riu, um som amargo. "Patética. A tua mentira é patética, Sofia. Achas que me enganas com essa história?"
Ele virou-lhe as costas e voltou para junto de Beatriz, deixando Sofia sozinha, humilhada, com as lágrimas a quererem saltar.
A verdade dela, mais uma vez, soava como mentira aos ouvidos dele.
O peso da descrença de Ricardo era esmagador.
Ela sentiu o olhar de Beatriz sobre si, um olhar de puro triunfo.
Sofia recompôs-se como pôde.
Não lhes daria o gosto de a ver chorar.
Pegou numa taça de champanhe e tentou parecer indiferente.
Mas por dentro, o seu coração estava em pedaços.
A noite que deveria ser uma simples formalidade transformava-se num pesadelo crescente.
Ela só queria ir embora, voltar para Lucas, para a sua vida real.
A festa continuou, mas para Sofia, a máscara que usava era a da indiferença, escondendo a dor e a raiva.