Entre a Fúria e o Arrependimento
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Capítulo 4

No dia seguinte, Sofia tinha um compromisso inadiável.

Ir buscar o seu vestido de noiva.

Ela mesma o desenhara e confeccionara durante meses em Lisboa, uma peça única, cheia de significado.

Pedira a uma amiga para o trazer de Portugal, e combinara encontrá-la num pequeno ateliê de uma conhecida em Santa Teresa.

Sentia um misto de ansiedade e alegria. Aquele vestido era a materialização dos seus sonhos com Lucas.

Chegou ao ateliê, um espaço charmoso e tranquilo.

O vestido estava lá, pendurado, deslumbrante. Seda marfim, com delicados bordados feitos à mão.

Sofia acariciou o tecido, emocionada.

"É lindo, Sofia," disse a dona do ateliê.

Nesse momento, a porta abriu-se e Ricardo e Beatriz entraram.

Sofia sentiu um arrepio. O que faziam ali?

"Que coincidência," disse Beatriz, com um sorriso falso. "Viemos ver uns arranjos para o meu vestido."

Os olhos dela fixaram-se no vestido de Sofia.

"Nossa! Que vestido maravilhoso! É teu, Sofia?"

"Sim," respondeu Sofia, na defensiva.

Beatriz aproximou-se, fingindo admiração. "É perfeito. Sabes, Sofia, eu ainda não encontrei o meu vestido ideal. Este ficaria deslumbrante em mim. Cedias-mo, não cedias?"

Sofia recuou, incrédula. "Não, Beatriz. Este é o meu vestido de noiva."

Ricardo interveio, a voz dura. "Sofia, não sejas egoísta. A Beatriz gostou do vestido. Entrega-lho."

"Não! Ricardo, este vestido é meu! Eu vou casar-me com ele!"

"Já chega dessa história de casamento! Entrega o vestido à Beatriz!"

Ricardo parecia irredutível.

"Eu não vou entregar," Sofia disse, a voz firme, apesar do medo.

Ricardo bufou, irritado. "Façam o que tiver de ser feito, Beatriz. Eu espero lá fora."

Ele saiu, batendo a porta.

Assim que Ricardo saiu, o sorriso de Beatriz tornou-se cruel.

Duas amigas dela, que Sofia não vira entrar, surgiram das sombras.

"Então, a órfãzinha acha que pode ter coisas bonitas?" disse Beatriz.

As três avançaram sobre Sofia.

Ela tentou proteger o vestido, mas eram demasiadas.

Rasgaram parte da sua blusa, arranharam-na.

Beatriz arrancou o vestido do cabide. "Este vestido é demasiado bom para ti."

Enquanto as amigas a seguravam, Beatriz vestiu o vestido de Sofia por cima da própria roupa, de forma desajeitada.

"Fica-me melhor, não achas?"

E, para cúmulo da humilhação, Beatriz pegou no telemóvel e começou a tirar fotos de Sofia, desgrenhada, com a roupa parcialmente rasgada, e dela mesma com o vestido roubado.

"Isto vai para o meu álbum de recordações," Beatriz gargalhou.

A dona do ateliê, assustada, finalmente conseguiu intervir, ameaçando chamar a polícia.

Beatriz e as amigas saíram a rir, levando o vestido.

Sofia ficou ali, trémula, sentindo-se violada.

A funcionária, penalizada, ofereceu-lhe ajuda. "Eu tenho as imagens da câmara de segurança, menina."

Com as imagens, Sofia foi à delegacia da mulher e fez a denúncia. Contou tudo, o roubo, a agressão, as fotos humilhantes.

Sentiu um pequeno alívio. Justiça seria feita.

Horas depois, o seu telemóvel tocou. Era Ricardo.

A voz dele era fria, acusadora.

"Foste à polícia, Sofia? Fizeste um escândalo por causa de um vestido?"

"Eles agrediram-me e roubaram o meu vestido de noiva, Ricardo!"

"Bobagens. A Beatriz disse que foi um desentendimento, que tu a atacaste primeiro. Eu já resolvi tudo. A denúncia foi arquivada. Considera isto uma lição, Sofia. Precisas aprender a conviver com a Beatriz. Ela será a minha esposa."

Sofia desligou, incrédula.

Ele usara a sua influência para abafar o crime, para proteger a agressora.

Ele acreditava em Beatriz, não nela.

A sensação de impotência era avassaladora.

O seu vestido de noiva, o símbolo do seu futuro, estava nas mãos da mulher que mais a odiava.

E o homem que deveria protegê-la era cúmplice dessa crueldade.

As lágrimas finalmente vieram, quentes e amargas.

                         

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