Sofia acariciou o tecido, emocionada.
"É lindo, Sofia," disse a dona do ateliê.
Nesse momento, a porta abriu-se e Ricardo e Beatriz entraram.
Sofia sentiu um arrepio. O que faziam ali?
"Que coincidência," disse Beatriz, com um sorriso falso. "Viemos ver uns arranjos para o meu vestido."
Os olhos dela fixaram-se no vestido de Sofia.
"Nossa! Que vestido maravilhoso! É teu, Sofia?"
"Sim," respondeu Sofia, na defensiva.
Beatriz aproximou-se, fingindo admiração. "É perfeito. Sabes, Sofia, eu ainda não encontrei o meu vestido ideal. Este ficaria deslumbrante em mim. Cedias-mo, não cedias?"
Sofia recuou, incrédula. "Não, Beatriz. Este é o meu vestido de noiva."
Ricardo interveio, a voz dura. "Sofia, não sejas egoísta. A Beatriz gostou do vestido. Entrega-lho."
"Não! Ricardo, este vestido é meu! Eu vou casar-me com ele!"
"Já chega dessa história de casamento! Entrega o vestido à Beatriz!"
Ricardo parecia irredutível.
"Eu não vou entregar," Sofia disse, a voz firme, apesar do medo.
Ricardo bufou, irritado. "Façam o que tiver de ser feito, Beatriz. Eu espero lá fora."
Ele saiu, batendo a porta.
Assim que Ricardo saiu, o sorriso de Beatriz tornou-se cruel.
Duas amigas dela, que Sofia não vira entrar, surgiram das sombras.
"Então, a órfãzinha acha que pode ter coisas bonitas?" disse Beatriz.
As três avançaram sobre Sofia.
Ela tentou proteger o vestido, mas eram demasiadas.
Rasgaram parte da sua blusa, arranharam-na.
Beatriz arrancou o vestido do cabide. "Este vestido é demasiado bom para ti."
Enquanto as amigas a seguravam, Beatriz vestiu o vestido de Sofia por cima da própria roupa, de forma desajeitada.
"Fica-me melhor, não achas?"
E, para cúmulo da humilhação, Beatriz pegou no telemóvel e começou a tirar fotos de Sofia, desgrenhada, com a roupa parcialmente rasgada, e dela mesma com o vestido roubado.
"Isto vai para o meu álbum de recordações," Beatriz gargalhou.
A dona do ateliê, assustada, finalmente conseguiu intervir, ameaçando chamar a polícia.
Beatriz e as amigas saíram a rir, levando o vestido.
Sofia ficou ali, trémula, sentindo-se violada.
A funcionária, penalizada, ofereceu-lhe ajuda. "Eu tenho as imagens da câmara de segurança, menina."
Com as imagens, Sofia foi à delegacia da mulher e fez a denúncia. Contou tudo, o roubo, a agressão, as fotos humilhantes.
Sentiu um pequeno alívio. Justiça seria feita.
Horas depois, o seu telemóvel tocou. Era Ricardo.
A voz dele era fria, acusadora.
"Foste à polícia, Sofia? Fizeste um escândalo por causa de um vestido?"
"Eles agrediram-me e roubaram o meu vestido de noiva, Ricardo!"
"Bobagens. A Beatriz disse que foi um desentendimento, que tu a atacaste primeiro. Eu já resolvi tudo. A denúncia foi arquivada. Considera isto uma lição, Sofia. Precisas aprender a conviver com a Beatriz. Ela será a minha esposa."
Sofia desligou, incrédula.
Ele usara a sua influência para abafar o crime, para proteger a agressora.
Ele acreditava em Beatriz, não nela.
A sensação de impotência era avassaladora.
O seu vestido de noiva, o símbolo do seu futuro, estava nas mãos da mulher que mais a odiava.
E o homem que deveria protegê-la era cúmplice dessa crueldade.
As lágrimas finalmente vieram, quentes e amargas.