Capítulo 5

Sofia decidiu não levar Bernardo para o evento de caridade naquela noite.

Queria um tempo longe dele, da pressão sutil que ele exercia.

E, estranhamente, queria proteger Lucas da inevitável fofoca.

Bernardo, sozinho na mansão, explorou o quarto de Lucas.

Notou a ausência de muitos pertences pessoais. Apenas o básico.

Um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios. A situação parecia favorável aos seus planos.

Lucas, enquanto isso, enfrentava a burocracia para liberar seu passaporte.

A cada formulário, a cada carimbo negado, sua suspeita sobre a interferência de Sofia se confirmava.

Apesar dos contratempos, ele se dedicava ao trabalho no hospital e aos estudos online para o curso de gastronomia francesa.

Uma nova vitalidade corria em suas veias.

Numa tarde, ao sair do hospital, deu de cara com Bernardo e o pequeno Theo na recepção.

Clara Monteiro estava com eles, e seu olhar para Lucas era de pura hostilidade.

"O que você está fazendo aqui, seu stalker? Perseguindo a minha irmã e o Bernardo?"

Lucas tentou ignorá-la e seguir seu caminho.

Mas Bernardo o bloqueou, um sorriso falso nos lábios.

"Lucas, meu amigo! Que coincidência! Precisamos conversar. Em particular."

Eles foram para uma sala vazia.

"Então, Lucas," Bernardo começou, a voz melosa. "Ouvi dizer que você está dificultando as coisas para a Sofia. Manipulando-a emocionalmente."

Lucas riu, irônico. "Eu? Manipulando a Sofia? Você realmente não a conhece, não é?"

"Eu a conheço muito bem. E sei que ela merece alguém melhor que você."

"Eu concordo," Lucas disse, surpreendendo Bernardo. "É por isso que pedi o divórcio. Assim que meu passaporte for liberado, estou de partida para a França."

Uma pontada de esperança ainda existia, mas ele a escondeu.

Bernardo o encarou, desdenhoso. "Você acha que eu acredito nisso? Você não vai a lugar nenhum. Você ama a Sofia. Ou melhor, ama o dinheiro dela."

Lucas sentiu o sarcasmo borbulhar. "E você, Bernardo? O que você ama na Sofia? Além do sobrenome Monteiro e do império dela?"

O sorriso de Bernardo vacilou.

De repente, ele agarrou o próprio braço e o torceu com força, soltando um gemido de dor.

Depois, se jogou contra uma estante, derrubando alguns objetos.

"O que você está fazendo?", Lucas perguntou, chocado.

Bernardo sorriu, um sorriso cruel. "Mostrando à Sofia quem você realmente é."

Ele começou a gritar. "Socorro! Ele está me agredindo!"

Lucas, apesar da raiva, sentiu o instinto de médico falar mais alto. Aproximou-se para ajudar.

Nesse momento, Clara entrou correndo na sala.

"Seu monstro! O que você fez com o Bernardo?" Ela partiu para cima de Lucas, aos gritos.

Lucas a segurou pelos ombros, irritado. "Sua irmãzinha mimada! Você não vê que ele está fingindo? Ele se machucou sozinho!"

Clara parou, chocada com a revelação, e correu para verificar Bernardo, que gemia no chão.

A porta se abriu novamente. Sofia.

Os olhos dela faiscavam de fúria.

"Lucas! O que significa isso? Você agrediu o Bernardo?"

Lucas sentiu uma amargura profunda. "Você realmente acha que eu faria isso, Sofia? Depois de tudo?"

Ela o olhou com desprezo. "Eu não duvido de mais nada vindo de você."

"Saia daqui," ela ordenou, a voz fria como gelo. "E se você se aproximar do Bernardo ou do Theo novamente, eu acabo com você."

Ela saiu, amparando Bernardo, deixando Lucas sozinho, desamparado.

Ao lado de Bernardo, no carro, Sofia sentiu uma pontada de dúvida. A expressão de Lucas... parecia tão genuinamente magoada.

Bernardo, percebendo a hesitação dela, começou seu teatro. "Sofia, não se preocupe comigo. Eu sou um fardo, eu sei. Talvez seja melhor eu e o Theo irmos embora."

Sofia olhou para o pequeno Theo, adormecido no banco de trás. A preocupação com a criança falou mais alto.

"Não diga bobagens, Bernardo. Você fica. E o Lucas vai ter que pedir desculpas."

Clara, no banco da frente, sorriu vitoriosa. "E ouvi dizer que ele planeja fugir do país, Sofia. Um covarde, como sempre."

Sofia sentiu um baque no peito. Fugir? Lucas não faria isso. Ou faria?