A humilhação pública foi como um tapa na cara de Lia.
As palavras de Bruno ecoaram na varanda, e Cíntia a olhava com falsa compaixão.
"Oh, Lia, não fique assim. Tenho certeza que Bruno não quis dizer isso," Cíntia disse, mas seus olhos brilhavam com malícia.
"Eu quis dizer exatamente isso, Cíntia," Bruno retrucou, cruzando os braços. "Ela tem andado com uns ares de superioridade, como se fosse melhor que todo mundo aqui."
Lia sentiu o sangue ferver. "Ares de superioridade? Eu? Bruno, você passou anos me ignorando, me tratando como um móvel velho. Agora que eu decidi seguir minha vida, eu sou a arrogante?"
Lágrimas de frustração brotaram em seus olhos. "Você tem alguma ideia do que eu passei? Do quanto eu sacrifiquei?"
Bruno pareceu desconfortável com o desabafo dela, especialmente com Cíntia presente.
Ele tirou uma pequena caixa do bolso. "Tome. Feliz aniversário atrasado."
Lia abriu. Era um par de brincos simples, de prata. Bonitos, mas nada comparado ao colar de ouro de Cíntia. A diferença no tratamento era gritante, mais uma vez.
"Obrigada," ela murmurou, a voz embargada.
Cíntia sorriu. "São... delicados, Lia. Combinam com você." A zombaria era sutil, mas presente.
Lia não aguentava mais. Ela se levantou. "Com licença, tenho trabalho a fazer."
Ela entrou em casa, deixando os dois na varanda.
Minutos depois, Bruno entrou no quarto. Ele trazia outra caixa, um pouco maior.
"Aqui. Este é melhor," ele disse, sem jeito. "Aquele primeiro foi... bem, Cíntia precisava de um agrado, você sabe como ela é sensível."
Eram brincos de pérola, mais caros que os de prata.
"Por que você faz isso, Bruno?" Lia perguntou, cansada.
"Isso o quê?"
"Essa constante comparação. Essa necessidade de me diminuir para exaltá-la."
Ele suspirou. "Não é isso, Lia. É que... Cíntia não tem ninguém. Ela depende de mim."
Lia não respondeu. Estava focada em sua partida, que se aproximava a cada dia.
"Haverá um jantar na casa do Comandante do Batalhão na próxima semana," Bruno disse, mudando de assunto. "Gostaria que você fosse comigo."
Lia pensou por um momento. Seria uma despedida não oficial daquela vida.
"Eu não sei, Bruno. Tenho muitas coisas para organizar."
"Por favor, Lia. Seria importante para mim."
Ela olhou para ele, para o homem que um dia amou tanto. Agora, via apenas um estranho.
"Tudo bem, eu vou. Mas talvez fosse melhor você levar Cíntia. Ela adoraria um evento social."
Bruno pareceu surpreso com a sugestão, mas depois sorriu. "Você tem razão. Ela ia gostar. Obrigado pela compreensão, Lia."
Ele saiu do quarto, aparentemente satisfeito.
Lia voltou ao seu trabalho, contando os dias para deixar aquela cidade, aquele casamento, para trás.
Alguns dias depois, Bruno voltou mais cedo de uma patrulha. Ele parecia agitado.
Ele entrou no quarto onde Lia estava lendo e jogou um envelope na cama.
"Meus pais me ligaram," ele disse, a voz tensa. "Eles me contaram uma história interessante. Sobre um divórcio."
Lia sentiu um arrepio. Seus pais sabiam. E agora, ele também sabia que era sério.