Capítulo 2

No dia seguinte, Ricardo acordou radiante.

Ele beijou Sofia na testa, alheio à tempestade que se formava dentro dela.

"Bom dia, minha noiva."

Ele sorriu, aquele sorriso que antes derretia o coração dela e que agora lhe causava náuseas.

Ele começou a falar animadamente sobre os preparativos do casamento.

O resort em Angra dos Reis, a lista de convidados, a lua de mel dos sonhos.

Sofia ouvia, acenava, sorria por fora.

Por dentro, cada palavra dele era uma facada.

Sofia observava-o, a sua aparente sinceridade era quase convincente.

Por um momento, uma ponta de dúvida surgiu.

Será que ela tinha entendido mal?

Não. As mensagens eram claras. As fotos também.

Mas uma parte dela, a parte que o amara durante oito anos, queria desesperadamente que fosse um erro.

"Ricardo," ela disse, a voz baixa. "Tu tens a certeza disto? Deste casamento? De nós?"

Ele olhou para ela, confuso.

Ricardo riu, afastando a preocupação dela com um gesto carinhoso.

"Claro que tenho, meu amor. Mais certeza do que nunca."

Ele abraçou-a.

"Seremos tão felizes."

Naquela mesma semana, Sofia descobriu que ele tinha dito palavras semelhantes a Bia.

Numa mensagem, ele prometera a Bia uma escapadela romântica para Angra, "assim que as coisas acalmassem".

Ricardo tirou uma pequena caixa de veludo do bolso.

"Tenho mais uma coisa para ti."

Ele abriu-a, revelando um relógio de grife, incrustado de diamantes.

"Feito sob medida. Único no mundo. Como tu, meu amor."

Ele colocou o relógio no pulso dela.

Mas Sofia sentia um frio na espinha.

Dias depois, a confirmação da sua suspeita veio através das redes sociais.

Bia postou uma foto.

No seu pulso, um relógio idêntico.

A legenda: "Presente de um admirador secreto. Sinto-me tão especial! #único #abençoada".

Sofia sentiu o sangue ferver.

Ela investigou.

O relojoeiro confirmou, com alguma relutância, que dois exemplares idênticos tinham sido encomendados por Ricardo Almeida.

Um para Sofia Oliveira.

Outro, com instruções para ser entregue discretamente a Beatriz Silva.

A mentira ecoava na sua cabeça.

Ele não só a traía, como a ridicularizava com os mesmos gestos, as mesmas palavras.