Ela caminhou até à varanda, buscando ar fresco.
A brisa da noite não conseguia arrefecer a raiva e a humilhação que a consumiam.
Ela encostou-se à grade, olhando para as luzes da cidade.
Lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto.
Ela queria gritar, quebrar alguma coisa.
Mas manteve a compostura.
A sua vingança precisava de uma mente fria.
"Sofia?"
A voz de Bia era suave, quase um sussurro.
Sofia virou-se, surpresa ao vê-la ali.
Bia aproximou-se, uma expressão de falsa inocência no rosto.
"Eu queria pedir desculpa pelo que aconteceu lá dentro. Não foi minha intenção causar problemas."
Ela fez uma pausa, depois acrescentou, com um pequeno sorriso.
"O Ricardo é tão protetor, não é? Ele preocupa-se muito comigo."
Sofia olhou para Bia, os olhos frios como gelo.
"As tuas desculpas são tão falsas quanto tu, Bia."
Ela disse, a voz firme.
"E as tuas táticas manipuladoras só funcionam com o Ricardo. Comigo, não."
Ela deu um passo em frente.
"Fica longe de mim. E fica longe do meu noivado."
Nesse momento, Bia cambaleou, levando a mão à cabeça.
"Ai, a minha cabeça... acho que vou desmaiar."
Ela encenou uma queda, caindo dramaticamente nos braços de Ricardo, que apareceu "por acaso" na varanda.
"Bia! O que se passa?"
A preocupação de Ricardo era imediata.
Ele segurou-a, olhando para Sofia com acusação.
"Sofia! O que é que lhe fizeste?"
A voz de Ricardo era dura, cheia de raiva.
"Não acredito que chegaste a este ponto! Maltratar uma mulher indefesa?"
Ele olhava para Sofia como se ela fosse um monstro.
A injustiça da acusação cortou Sofia profundamente.
Ela, que sempre fora gentil, agora era acusada de crueldade.
Ricardo levantou Bia nos braços.
"Vou levá-la para casa. Ela precisa de descansar."
Ele passou por Sofia sem lhe dirigir mais um olhar.
Desconsiderando completamente a sua presença, o seu bem-estar.
Sofia ficou sozinha na varanda, o coração em pedaços.
Sofia lembrou-se de quando defendeu Bia de bullying na faculdade.
Bia era tímida, desajeitada, um alvo fácil.
Sofia interveio, protegeu-a.
E era assim que Bia lhe retribuía?
E Ricardo, que a conhecia há oito anos, acreditava tão facilmente na encenação de Bia?
A amargura subiu-lhe à garganta.
Onde estava a confiança dele? A fé no carácter dela?
Oito anos de relacionamento, de amor, de cumplicidade.
Tudo desapareceu por causa das lágrimas de crocodilo de uma manipuladora?
A base do relacionamento deles era assim tão frágil?
Sofia voltou para o salão.
Alguns amigos aproximaram-se, oferecendo palavras de conforto.
"Não ligues, Sofia. Ele está cego."
"Ela é uma cobra."
Mas as palavras não ajudavam. A humilhação pública era demasiado grande.
Ela despediu-se rapidamente e foi para casa.
Ao chegar a casa, uma fúria fria tomou conta dela.
Ela abriu o seu armário, tirou todas as roupas de Ricardo.
Jogou-as no chão.
Abriu as gavetas, esvaziou-as.
Presentes, fotografias, cartas de amor.
Tudo o que lhe lembrava dele, dos seus oito anos juntos.
Ela pegou no relógio "único", atirou-o contra a parede.
O vidro estilhaçou-se.
Ricardo chegou horas depois, encontrou as suas coisas empilhadas à porta do quarto de hóspedes.
A casa estava diferente. Fria. Hostil.
Ele percebeu imediatamente a rejeição simbólica.
Pânico e culpa invadiram-no.
Ele correu para o quarto de Sofia. A porta estava trancada.
"Sofia! Abre a porta! Precisamos de conversar!"
Ele tentou forçar a maçaneta.
Sofia permaneceu em silêncio do outro lado da porta.
A sua resolução era firme.
Ela não o deixaria entrar. Não mais.
"Sofia, por favor! Eu cometi um erro! Eu amo-te!"
As suas palavras soavam vazias, desesperadas.
Ela não respondeu.
Ricardo não desistiu.
Ele sentou-se no chão, encostado à porta.
"Eu vou ficar aqui, Sofia. Vou esperar. Até me perdoares."
A sua voz era um murmúrio de súplica.
Sofia deitou-se na cama, mas não conseguiu dormir.
A imagem de Ricardo a defender Bia, a acusá-la, a abandoná-la.
Repetia-se na sua mente, como um pesadelo.