Sofia, como arquiteta, sempre usara o desenho e a escrita como escape.
Ela começou um blog anónimo. "Crônicas de um Amor Traído".
No primeiro post, descreveu, com detalhes velados mas reconhecíveis para quem estivesse por dentro, a descoberta da traição.
A dor, a desilusão. E a decisão de uma mulher de não ser mais vítima.
Ela detalhava os planos de Ricardo para o casamento, a sua hipocrisia.
Sem que ele soubesse, a sua história tornava-se viral.
Os comentários no blog multiplicavam-se.
"Que canalha!"
"Força, mulher! Não te deixes abater!"
"Este tipo merece o pior!"
As reações validavam os sentimentos de Sofia.
O julgamento moral do público anónimo era um bálsamo para a sua dor.
Ricardo, alheio a tudo, até elogiou o "hobby" de Sofia.
"Ouvi dizer que estás a escrever um blog. Que interessante, meu amor. Sobre arquitetura?"
"Algo assim," ela respondeu, evasiva.
"Tenho a certeza que será um sucesso," ele disse, com um sorriso condescendente.
Ele não fazia ideia que o "sucesso" do blog seria a sua ruína.
Ricardo convidou Sofia para uma festa de gala beneficente.
"Temos de mostrar o nosso anel, celebrar o nosso noivado com a sociedade."
Sofia aceitou.
Seria mais uma oportunidade para observar, para reunir material para o seu blog.
E, talvez, para o jogo começar a virar.
A festa estava no auge quando Bia Silva fez a sua entrada.
Usava um vestido vermelho, demasiado chamativo.
Todos os olhares se viraram para ela.
Sofia sentiu um aperto no peito.
De repente, um pequeno alvoroço.
Bia estava com a mão a sangrar ligeiramente, um copo partido no chão perto dela.
Ricardo, que estava a conversar com um grupo de empresários, correu imediatamente para o lado dela.
"Bia! O que aconteceu? Estás bem?"
A sua preocupação era visível, urgente.
Ele pegou num guardanapo, limpou o pequeno corte.
Sofia observava de longe, o coração a afundar-se.
Alguns convidados, amigos de Sofia e Ricardo, começaram a criticar Bia em voz alta.
"O que é que esta mulher está aqui a fazer?"
"Não tem vergonha?"
Bia tentou defender-se, a voz trémula.
"Foi um acidente... eu só..."
Mas ninguém parecia acreditar nela.
Foi então que Ricardo explodiu.
"Parem com isso! Deixem-na em paz!"
Ele gritou, a voz cheia de uma raiva que Sofia raramente via.
"Não veem que ela está magoada? Que falta de sensibilidade!"
Ele repreendeu os amigos, os outros convidados.
O salão ficou em silêncio. Todos olhavam, chocados.
Ricardo, o CEO elegante e controlado, a defender publicamente a sua assistente de forma tão veemente.
Sofia sentiu o olhar de pena dos outros sobre si.
Mais tarde, durante um jogo de salão, "Verdade ou Consequência", a situação piorou.
Alguém, por maldade ou ignorância, desafiou Bia.
"Bia, verdade ou consequência?"
Ela escolheu consequência, hesitante.
O desafio: "Beija a pessoa mais atraente da sala ou bebe um shot de licor puro."
Bia olhou para Ricardo, depois para Sofia.
Escolheu o shot, mas a sua mão tremia tanto que quase o deixou cair.
Antes que Bia pudesse levar o copo aos lábios, Ricardo interveio.
Ele arrancou o copo da mão dela.
"Ela não pode beber isto! Ela é alérgica a este licor! Pode matá-la!"
Ele disse, a voz cheia de pânico.
Depois, num gesto que chocou a todos, ele puxou Bia para um abraço apertado, protetor.
"Está tudo bem, Bia. Eu estou aqui."
Ele olhou para os outros com fúria.
"Vocês são uns monstros."