Isabella sorriu, radiante, e tocou o medalhão em seu pescoço.
"É lindo, Ricardo, obrigada."
Então, como se fosse um acidente, ela se inclinou para frente, e o medalhão escorregou de seus dedos, caindo com um baque surdo no chão de mármore polido.
O fecho quebrou, a peça amassou visivelmente.
"Oh, que desajeitada eu sou!" ela exclamou, a voz cheia de um falso pesar.
Sofia não conseguiu se conter.
Correu, ajoelhou-se e tentou juntar os pedaços do seu tesouro destruído.
"Você fez de propósito!" ela gritou para Isabella, as lágrimas finalmente escorrendo.
Ricardo a segurou pelo braço com força.
"Sofia, controle-se! Não vê que foi um acidente? Pare de atacar a Isabella!"
A voz dele era dura, fria.
"Este medalhão era da minha avó!" Sofia soluçou, mostrando os pedaços em sua mão. "Eu o penhorei para pagar seus remédios quando você não era ninguém, quando não lembrava nem o seu nome!"
Ricardo a olhou com impaciência.
"Não seja melodramática. É apenas um objeto. Eu compro outro para você, se quiser."
Ele se virou para Isabella, oferecendo-lhe o braço.
"Vamos, querida. Esta noite está se tornando desagradável."
Eles se afastaram, deixando Sofia ajoelhada no chão, com os restos de sua herança e de seu coração nas mãos.
Lá fora, uma chuva forte começou a cair.
Sofia viu Ricardo e Isabella entrarem no carro de luxo dele, um modelo importado que custava mais do que ela ganharia em várias vidas.
Eles partiram, secos e confortáveis, enquanto ela ficava ali, sozinha, desolada, a chuva começando a encharcar suas roupas.
Uma lembrança a atingiu com força.
Um dia, quando ainda viviam na comunidade, ela torcera o pé voltando da feira.
"Leo", sem pensar duas vezes, a pegara nos ombros e a carregara por um longo caminho debaixo de uma chuva fina, cantando canções bobas para distraí-la da dor.
Aquele homem não existia mais.
Ela voltou para a mansão de táxi, ensopada e tremendo.
Cuidou dos arranhões nos joelhos, resultado da queda ao tentar pegar o medalhão.
Olhou para seu reflexo no espelho.
O Leo que ela amava estava morto. O Ricardo Andrade que o substituíra era um estranho cruel.
A decisão de partir, antes uma necessidade amarga, agora se tornava um alívio.
Na manhã seguinte, Ricardo entrou em seu quarto sem bater.
"Hoje à noite temos um jantar na casa dos meus pais. Esteja pronta às oito."
Não era um convite, era uma ordem.
Sofia apenas assentiu. A discussão não valeria a pena.