A Escolha do Meu Marido
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Capítulo 2

Esperei duas horas. Duas horas a olhar para o teto branco, com as palavras de Helena a ecoarem na minha cabeça.

Finalmente, Miguel apareceu.

Ele parecia cansado. Havia um pequeno corte na sua testa, coberto com um penso. Ele não me olhou nos olhos.

"Como estás?" perguntou ele, a sua voz baixa.

"Onde estiveste?" A minha voz saiu mais fria do que eu esperava.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "A Sofia estava em pânico. Ela não parava de chorar. A mãe teve de a levar para casa. Eu precisava de me certificar de que ela ficava bem."

Ele falou da irmã dele. Da mãe dele. Mas não do nosso filho.

"O nosso filho morreu, Miguel."

As palavras saíram diretas, sem emoção. Eu sentia-me oca por dentro.

Ele finalmente olhou para mim. Havia irritação nos seus olhos, não tristeza.

"Eu sei. Achas que não sei? Achas que não estou a sofrer?"

"Eu estava presa no carro", disse eu, a minha voz a tremer ligeiramente. "Eu chamei por ti. Tu tiraste a Sofia primeiro."

Não era uma pergunta. Era um facto. A última coisa de que me lembro antes de desmaiar foi de o ver a puxar a Sofia para fora do carro, enquanto eu estava presa com o cinto de segurança a apertar-me a barriga.

"A Sofia estava a sangrar da cabeça! Ela estava no banco da frente, o impacto foi maior para ela. Tu parecias bem!" a sua voz aumentou de tom, defensiva.

"Eu estava grávida de oito meses, Miguel. Eu estava a gritar o teu nome."

"E o que querias que eu fizesse? Eu entrei em pânico! Fiz o que achei melhor naquele momento! Pára de me culpar!"

Ele estava a gritar agora. A culpar-me por o culpar.

Senti uma calma estranha tomar conta de mim. A dor, o choque, a tristeza, tudo se transformou numa clareza gelada.

"Quero o divórcio", disse eu.

Ele parou de gritar. Olhou para mim como se eu fosse louca.

"O quê? Divórcio? Acabámos de perder um filho e estás a falar em divórcio? Não tens coração, Clara?"

"O meu coração foi esmagado no banco de trás daquele carro, enquanto tu escolhias a tua irmã em vez de mim e do teu filho."

"Isso não é justo! Eu não escolhi!"

"Sim, escolheste. E agora eu estou a escolher. Quero o divórcio, Miguel. Acabou."

Ele abanou a cabeça, incrédulo.

"Estás em choque. Não sabes o que estás a dizer. Vamos falar sobre isto mais tarde, quando estiveres mais calma."

Ele virou-se para sair.

"Não haverá um mais tarde", disse eu para as suas costas. "Vou contactar um advogado assim que sair daqui."

Ele parou à porta, mas não se virou. Depois, saiu e fechou a porta atrás de si, deixando-me sozinha com a minha decisão.

            
            

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