Capítulo 5 Pérolas

Os olhos de Rosanna se encheram de lágrimas.

Suas mãos, pendendo ao lado do corpo, estavam cerradas em punhos, com as unhas cravando dolorosamente nas palmas.

Ela sempre sabia que Oliver não gostava dela de verdade, mas jamais imaginara que ele pudesse ser tão cruel.

Nesse momento, ela se lembrou de uma história que circulava na internet pouco tempo atrás: um homem vendeu tudo o que possuía e assumiu diversos empregos apenas para pagar o tratamento da esposa, diagnosticada com uremia.

Ao lado dessa narrativa comovente, seu próprio problema parecia insignificante - um pequeno nódulo de 2, 5 milímetros, ainda sem confirmação de malignidade. E, mesmo assim, Oliver já demonstrava pressa em se livrar dela.

"Esqueça Klenridge. Vou marcar um médico aqui mesmo. Fazer a biópsia em Qegan amanhã será mais rápido", Rosanna disse, piscando para conter as lágrimas e lutando para manter a voz firme apesar das emoções que sentia.

Oliver segurou o queixo dela com força, os olhos cortantes como lâminas. "Está com tanta pressa para se livrar de mim assim?"

"Não é isso que você quer?", Rosanna retrucou, mordendo o lábio com força.

O gosto metálico de sangue se espalhou por sua língua, e a dor repentina tornou difícil até mesmo respirar.

Os olhos de Oliver se tornaram sombrios, carregados de um veneno frio enquanto ele a empurrava contra a parede. "Depois de três anos compartilhando a mesma cama comigo, você acha mesmo que aquele homem ainda vai querer você de volta?"

As palavras dele atingiram Rosanna como lâminas afiadas, cortando antigas feridas que ela passara muito tempo tentando cicatrizar.

Ele continuou: "Nem consegue me olhar nos olhos porque sabe que está errada. Fica me traindo em pensamento o tempo inteiro! Aquele sujeito te traiu três anos atrás e você ainda pensa nele? Que patético!"

Rosanna permanecia em silêncio.

Ela se sentia como se todas as emoções dentro de si tivessem sido apagadas, como se tivesse se tornado apenas um corpo vazio.

Os lábios de Oliver deslizaram do lóbulo da orelha até a bochecha, e então se pressionaram contra os seus.

O calor da respiração dele era sufocante, confundindo seus sentidos já abalados.

Durante muito tempo, ela aprendera a decifrar as intenções dele. Em outras ocasiões, ela cedia ou simplesmente suportava em silêncio. Mas, nessa noite, ela afastou firmemente a mão dele de sua cintura e seguiu para o quarto principal, sem dizer nada.

Sozinho, Oliver sentiu que o desejo que havia se acendido se dissipou tão rápido quanto surgira.

Ele cruzou o corredor sem sequer olhar para o quarto, entrou no escritório e trancou a porta, se deixando afundar na poltrona junto à janela.

Após se sentar em silêncio com os olhos fechados por um tempo, ele abriu o cofre e retirou três caixas.

Eram caixas elegantes, do tamanho da palma da mão, feitas com materiais raros e cobertas por delicadas gravações.

Ele as colocou ordenadamente em uma fila sobre a mesa.

Em cada uma, uma data gravada na parte de trás - uma de dois anos atrás, outra do ano passado e a última de apenas um dia antes.

Todas com o mesmo dia e mês: 6 de dezembro - aniversário de Rosanna, que era no dia seguinte.

Dentro de cada caixa, repousava uma única pérola branca, do tamanho de um polegar, claramente valiosa.

Desde que se casaram, sempre dois dias antes do aniversário de Rosanna, um pacote misterioso chegava para ela.

O estranho era que, apesar de estarem endereçados a Rosanna, era o número de Oliver que aparecia como contato.

No primeiro ano, o pacote veio com apenas uma pérola em uma caixinha delicada, acompanhada de um bilhete escrito à mão: "Feliz Aniversário."

Sem nome. A caligrafia era tão elegante que parecia saída de uma impressora de luxo.

Oliver tivera um palpite certeiro sobre quem poderia ser o remetente desde a primeira vez, mas, mesmo assim, pedira a Karl que investigasse.

No ano seguinte, a mesma coisa, e agora, de novo.

Rosanna não pisava em Jiford há três anos, mas alguém de lá enviava pérolas - de Jiford para Ekadence, depois para Qegan.

Oliver só conseguia pensar em uma palavra que explicasse isso: amor.

Rosanna não sabia de nada, e ele também não pretendia contar.

Ele devia ter jogado fora a primeira caixa assim que a recebeu, mas por algum motivo, não o fez. Agora, só de olhar para elas, ele se irritava.

Enquanto Oliver se isolava no escritório, Rosanna se remexia na cama antes de finalmente se levantar e ir para a emissora mais cedo.

Atormentada pelos pensamentos sobre o nódulo, o risco de algo grave e o divórcio iminente, ela quase avançou dois sinais vermelhos no caminho.

Pensar em como Oliver havia sido frio e insensível transformava seus sentimentos por ele em uma piada de mau gosto.

Era evidente que o amor vinha apenas dela, por isso, estava determinada a enterrá-lo em silêncio.

Ela já havia decidido que pediria o divórcio primeiro, e depois, faria o exame de acompanhamento no mês seguinte, como Gregg sugerira.

Ao estacionar o carro, Rosanna ficou um tempo parada antes de seguir para a emissora. Então, ela pegou o celular e ligou para Leah.

Quando ela falou sobre a ideia de conseguir um relatório falso de câncer de mama, Leah ficou chocada.

"Você está mesmo disposta a ir tão longe só para se divorciar de Oliver?"

Rosanna soltou um suspiro cansado. "Estou decidida a conseguir um exame falso, nem que seja por fora do sistema. Talvez eu seja a primeira a fazer isso... mas vou precisar da sua ajuda para inventar os dados clínicos."

Leah hesitou por um momento antes de responder: "Se isso ajudar você a se livrar daquele canalha, eu dou um jeito. Aguarde meu retorno."

Rosanna rapidamente disse: "Mesmo que eu continue presa a ele, não quero que você faça nada ilegal por minha causa, Leah. Eu só..."

Mas, antes que pudesse terminar, Leah já havia desligado.

O simples pensamento de finalmente encerrar seu casamento com Oliver deixava Rosanna sem ar.

Ela se repreendeu por ainda se sentir abalada.

Com o fim do ano se aproximando, a indústria da mídia entrava em ritmo acelerado, e a carga de trabalho triplicava.

As plataformas online ganhavam cada vez mais espaço, e a TV Qegan corria para se reinventar, apostando na geração de receita.

Para muitas grandes empresas, contar com Rosanna - a âncora principal da emissora - como mestre de cerimônias de seus eventos corporativos era um verdadeiro selo de prestígio.

Como a receita de anúncios tradicionais diminuía ano após ano, a emissora adotou o modelo de divisão de lucros: 60% para o apresentador, 40% para a emissora.

Assim que Rosanna se sentou à mesa, Kyle lhe enviou um cronograma apertado.

Sem qualquer consulta prévia, ela já estava escalada para sete eventos de fim de ano.

Sua cabeça latejou ao ver que o primeiro aconteceria essa mesma tarde, para a festa do Grupo Marshall.

Só de lembrar que vários membros da família Marshall trabalhavam na empresa, e com Millie também lá, seu ânimo desabou.

Ela ligou para Kyle, tentando recusar com tato, mas a experiência dele se impôs.

Das doze até meio-dia e meia, Rosanna apresentou ao vivo o programa Notícias Financeiras. Sua voz falhou ligeiramente quando leu a manchete sobre a aquisição da Galaxy Media pelo Grupo Marshall, pois o nome de Oliver estava ali, estampado no roteiro.

Nesse instante, as palavras frias dele ecoaram em sua mente: "Se encontrarem algo sério, vamos nos divorciar."

Às treze horas em ponto, um micro-ônibus elegante do Grupo Marshall chegou à emissora para buscar Rosanna e alguns colegas.

No estacionamento, Millie os aguardava.

Agora que Oliver era vice-presidente do grupo, ver Millie - sua mulher de confiança - recebendo os convidados pessoalmente era um sinal claro da importância do evento.

O comportamento gentil de Millie era um ato ensaiado para impressionar Oliver, pois, quando ele não estava por perto, ela era distante com todos.

A mulher cumprimentou o diretor do evento com seriedade e, em seguida, seus olhos pousaram diretamente em Rosanna.