Capítulo 4 Custo e benefício

Enquanto aguardava para ser chamada pelo médico, Rosanna tentava conter a inquietação que crescia dentro de si.

Mesmo sabendo, no fundo, qual era a verdade, uma dúvida insistente se repetia em sua mente: se o diagnóstico fosse ruim, será que Oliver sentiria alguma tristeza por ela?

A consulta seria com o doutor Gregg Scott, chefe do Departamento Galactóforo do Hospital Harmony. Conhecido por sua objetividade, olhar clínico afiado e mais de trinta anos de experiência, Gregg era do tipo que não dourava a pílula.

Ele a cumprimentou com um aceno breve, se sentou diante das imagens do exame e começou a analisá-las com atenção minuciosa por trás das lentes espessas dos óculos. "Houve um aumento de 0, 5 milímetros nos últimos três meses. Não posso descartar completamente a possibilidade de malignidade."

Rosanna sentiu um calafrio subir pela espinha, enquanto perguntava: "Tem certeza?"

"É possível que a imagem não esteja cem por cento precisa. Se o crescimento tivesse sido mais expressivo, poderíamos afirmar com mais convicção. Mas, com apenas meio milímetro de alteração, ainda é difícil dizer com certeza."

"E qual seria a probabilidade de ser maligno?", Rosanna insistiu, tentando manter a voz firme, apesar do rosto empalidecido.

"Mesmo que o aumento seja real, ainda está abaixo de um centímetro, então deve estar tudo bem. O mais prudente é repetir o exame daqui a um mês. Se houver novo crescimento, partiremos para uma biópsia", Gregg disse enquanto tirava os óculos para esfregar os olhos cansados.

Depois de uma pausa, ele acrescentou gentilmente: "Uma boa saúde mental vai ajudar mais do que parece. Coma bem, durma direito, e evite se apegar a pensamentos que te desestabilizem. Um bom humor contribui mais para o corpo do que muita gente imagina."

Rosanna ouviu cada palavra com atenção absoluta.

Depois que Gregg lhe entregou as prescrições de dois medicamentos, ela seguiu para a farmácia, determinada a manter a serenidade.

Assim que entrou no saguão da farmácia, deu de cara com as últimas pessoas que gostaria de ver: Oliver e Millie.

Seu coração acelerou, mas ela desviou o olhar imediatamente e levou a mão ao peito numa tentativa inútil de se acalmar. Ela não ia deixar que a dupla afetasse seu humor.

No segundo seguinte, Millie começou: "Senhorita Will... quero dizer, senhora Marshall, está se sentindo mal? Conheço alguns médicos excelentes, se quiser, posso apresentá-la."

"Não será necessário." Rosanna ergueu o queixo e passou por eles com firmeza, sem olhar para trás, sentindo um certo orgulho por nem sequer encarar Oliver.

Como Karl já havia partido após levá-la ao hospital, ela saiu do prédio e começou a procurar por um Uber.

Mas o trânsito do horário de almoço transformava tudo em um caos. Ela atualizava a tela sem parar, e nenhum motorista aceitava a corrida.

Foi então que ouviu, à sua esquerda, o som inconfundível de uma buzina familiar. Ela congelou por um instante, mas não se moveu.

Rosanna sabia de quem era o carro. Em Qegan, poucos veículos desse modelo e marca circulavam. Um deles pertencia a Oliver.

Mesmo que fosse ele, ela não queria vê-lo, especialmente se Millie estivesse lá dentro. Era mais seguro fingir que não ouviu nada.

No entanto, a buzina soou novamente.

"Entre", veio uma voz que ela conhecia bem, firme e impositiva.

Como se essa voz ainda tivesse o poder de atravessar todas as barreiras que Rosanna tentava construir, ela não pôde evitar, então virou a cabeça e viu que Oliver estava ao volante, o rosto parcialmente à mostra pela janela entreaberta. Millie não estava com ele.

"Entre", Oliver repetiu, num tom que não aceitava recusa.

Como se estivesse hipnotizada, Rosanna entrou no carro e ocupou o banco do passageiro.

A porta se fechou com um estalo, a janela subiu e o carro arrancou assim que o sinal abriu, mergulhando no trânsito barulhento da cidade.

Se não tivesse encontrado Millie antes, talvez ela mesma tivesse puxado assunto. Mas agora, o silêncio era a única resposta possível.

Foi Oliver quem o quebrou, minutos depois. "Você já recebeu os resultados?"

Rosanna encostou a cabeça no vidro e fechou os olhos, se recusando a responder.

"O nódulo cresceu ou diminuiu? O que o médico disse?", Oliver pressionou.

Rosanna permanecia calada, como se não tivesse ouvido.

A luz fria do inverno invadia o carro, desenhando sombras sobre o rosto de Oliver, que tentava manter a compostura apesar do incômodo evidente.

Vinte minutos depois, eles estacionaram diante da Vila Nexus.

Assim que o carro parou, Rosanna abriu a porta e correu direto para os portões sem olhar para trás.

Na pressa, ela nem percebeu que um papel havia escorregado do bolso do casaco.

Oliver saiu do carro, pegou o papel dobrado e o abriu. Era o relatório do exame de ultrassom.

Após ler e reler a observação "Recomenda-se retorno em um mês", a sensação de frustração se instalou e ele acendeu um cigarro, deu algumas tragadas rápidas e o esmagou contra o chão antes de pegar o celular.

Quando a ligação foi completada, uma chamada de Karl surgiu na tela.

Ele recusou, terminou o que estava fazendo e só então retornou para Karl.

"Senhor, rastreei o pacote que a senhora Marshall recebeu ontem. Como nos anos anteriores, ele foi enviado de Jiford para Ekadence e só depois para Qegan. Quanto ao remetente original... continua sendo o senhor Burton", Karl revelou.

"Entendi." Oliver desligou sem emoção.

O vento cortante passou por ele, levando embora qualquer traço de calor que ainda restasse em seu olhar.

Na noite anterior, Rosanna havia estendido sua licença de meio dia para dois dias completos, com o intuito de acompanhar a amiga da mãe de Oliver. Assim que chegou em casa, cancelou sua licença no sistema interno da emissora.

Ela sempre levava o trabalho a sério.

Como âncora de notícias, não precisava cumprir horário, contanto que suas entregas e cotas fossem cumpridas.

Mas Rosanna se cobrava muito mais do que isso.

Sem família na cidade, com apenas Leah como amiga e alguém imprestável como Oliver como marido, ela precisava se apoiar em si mesma, e sua carreira era seu maior alicerce.

Em apenas dois anos, ela havia deixado de ser uma repórter comum para se tornar uma das principais âncoras da emissora, trabalhando até tarde, abrindo mão de folgas e transformando intervalos em turnos extras.

Por isso, quando ela pediu a extensão da licença, o diretor Kyle Watson estranhou e até perguntou se estava acontecendo alguma coisa.

Agora, em casa, Rosanna trocou de roupa, vestindo um pijama confortável.

Caminhou até a cozinha, retirou uma refeição pronta da geladeira e, depois de aquecê-la, adicionou duas colheres generosas de azeite - algo que não fazia há tempos.

As palavras do doutor Gregg ecoavam em sua mente e, até ter um diagnóstico conclusivo, ela não iria mais se negligenciar.

Ela comeria os carboidratos que havia jurado evitar, desfrutaria do fast-food que uma vez baniu de seu prato e, mais importante, pararia de desperdiçar um único suspiro com Oliver, o homem que poderia estragar seu humor em minutos e mantê-la irritada por horas.

Ele que fizesse o que quisesse longe dali. Ela estava cansada de se importar.

Quando Oliver entrou na casa, encontrou uma cena que o surpreendeu.

"Abandonou a dieta para ficar bem na câmera? Os resultados te abalaram?", ele perguntou, lançando um olhar para o prato.

Rosanna seguiu comendo, como se ele fosse invisível.

"Eu vi o resultado. O nódulo tem apenas 2, 5 milímetros. Não há com o que se preocupar. Você está calada desde que saímos do hospital. Está me ignorando de propósito porque está chateada comigo?", Oliver perguntou enquanto colocava o papel sobre a mesa.

Rosanna largou o garfo, respirou fundo e respondeu com frieza: "Não estou chateada com você. Só não estou com vontade de conversar."

Millie levara uma pancada e, imediatamente, e Oliver estivera pronto para levá-la para Klenridge, atrás do melhor especialista da região.

E ela? Tinha um nódulo crescendo dentro do próprio corpo, mas seu suposto marido nem sequer mexeu um dedo para conseguir um atendimento melhor para ela. Em vez de ajudar, ele estava discutindo com ela.

O rosto de Oliver se suavizou, como se tivesse captado algo no tom dela. "O que o médico disse exatamente?"

"Está tudo no relatório, e você já leu", Rosanna respondeu, contendo sua raiva, embora ainda houvesse um tom de desagrado em sua voz.

"Não estou perguntando o que está escrito. Quero saber o que ele te disse. Você é minha esposa. Tenho o direito de saber se está com uma doença grave", Oliver retrucou, segurando o pulso dela com firmeza.

Rosanna estremeceu diante do toque dele e o encarou nos olhos. "Que tipo de marido age assim e ainda se considera cuidadoso?"

Oliver soltou uma risada sem humor. "Cuidadoso? Você já tem quem cuide de você. Eu sou um homem de negócios, Rosanna. Tomo decisões com base em custo e benefício."

Toda a raiva que Rosanna vinha reprimindo emergiu com força. "Então, me diga, senhor Marshall, o que exatamente pretende fazer?"

"Faça suas malas. Você vai comigo para Klenridge para um check-up completo. E se encontrarem algo sério... vamos nos divorciar", Oliver declarou enquanto emoções indecifráveis transbordavam de seus olhos.

Cada palavra cortou Rosanna como uma lâmina.

Em seu momento mais frágil, até o próprio marido estava disposto a descartá-la.

Isso era dolorosamente patético.