O meu filho nasceu morto.
A enfermeira segurava o meu bebé, envolto num lençol branco, e perguntou-me com pena se eu queria dar-lhe um último olhar.
Eu abanei a cabeça.
Não consegui suportar.
A imagem dele, pequeno e sem vida, ficaria gravada na minha memória para sempre, um tormento sem fim.
O meu marido, Pedro, estava sentado no corredor do hospital, com a cabeça entre as mãos, a chorar baixinho.
A minha sogra, a mãe dele, estava ao seu lado, a dar-lhe palmadinhas nas costas.
"A culpa é toda da Sofia. Se ela tivesse sido mais cuidadosa, o nosso neto ainda estaria vivo."
A voz dela era baixa, mas cada palavra chegou aos meus ouvidos com uma clareza cortante.
"Ela nem sequer consegue carregar um bebé. Que inútil."
Pedro não disse nada. O seu silêncio foi a sua concordância.
A minha mãe entrou no quarto, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ela sentou-se na beira da minha cama, pegou na minha mão e as suas lágrimas começaram a cair novamente.
"Minha querida, como é que isto pôde acontecer?"
Eu não respondi. Apenas olhei para o teto branco do hospital, sentindo um vazio absoluto.
O que é que eu podia dizer? Que o meu marido e a minha sogra me deixaram sozinha durante a minha gravidez de alto risco para irem de férias a Bali com a prima dele, a Joana?
Que eu caí das escadas enquanto tentava mudar uma lâmpada porque ninguém estava em casa para me ajudar?
Que eu fiquei deitada no chão, a sangrar, durante horas, até que um vizinho ouviu os meus gemidos fracos e chamou uma ambulância?
Dizer a verdade não traria o meu filho de volta. Apenas causaria mais discussões, mais dor.
E eu estava cansada. Tão incrivelmente cansada.
Pedro entrou finalmente no quarto. Os seus olhos estavam vermelhos, o seu rosto manchado de lágrimas.
Ele olhou para mim, a sua expressão uma mistura de dor e acusação.
"Sofia, o médico disse... o médico disse que foi o stress. Que tu não te cuidaste."
Ele parou, a sua voz a tremer.
"Porque é que não foste mais cuidadosa?"
A pergunta pairou no ar, pesada e injusta.
Eu olhei para ele, para o homem que jurei amar e honrar, e não senti nada. Apenas um frio gelado.
"Pedro, quero o divórcio."
A minha voz saiu firme, sem emoção.
Ele olhou para mim, chocado. "O quê? Agora? Depois de tudo o que aconteceu? Perdemos o nosso filho, e tu queres desistir de nós?"
"Não há mais 'nós' para desistir," respondi calmamente. "Isso acabou no momento em que me deixaste sozinha."
A minha sogra entrou de rompante no quarto, o seu rosto contorcido de raiva.
"Sua ingrata! O meu filho está de coração partido, e é assim que o tratas? Foste tu que perdeste o bebé! A culpa é tua!"
Eu ignorei-a e mantive o meu olhar em Pedro.
"Saiam. Ambos."
"Sofia, não sejas assim," Pedro implorou, a sua voz a quebrar-se. "Nós podemos superar isto. Juntos."
"Não," disse eu, a minha decisão final como uma rocha. "Acabou."
Eles finalmente saíram, deixando-me em silêncio.
O silêncio era um alívio. Nele, eu podia finalmente começar a chorar. Não por eles, não pela perda do meu casamento.
Mas pelo meu filho. O meu pequeno anjo que nunca teve a oportunidade de respirar.