Quando a Dor Vira Força
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Capítulo 3

A vida depois do divórcio era um borrão cinzento.

Mudei-me para um pequeno apartamento no centro da cidade, longe das memórias da minha vida antiga.

A minha mãe queria que eu ficasse com ela, mas eu precisava do meu próprio espaço para curar. Ou pelo menos, para tentar.

Passei os meus dias a dormir, a ver televisão sem realmente prestar atenção, e a ignorar as chamadas de amigos bem-intencionados.

A dor era uma presença constante, um peso no meu peito que tornava difícil respirar.

Uma tarde, a campainha tocou. Eu ignorei. Tocou novamente, insistentemente.

Com um suspiro, arrastei-me até à porta e olhei pelo olho mágico.

Era a Joana.

O meu primeiro instinto foi fechar a porta e fingir que não estava em casa. Mas uma parte de mim, uma parte zangada e curiosa, queria saber o que ela queria.

Abri a porta.

Ela sorriu, um sorriso brilhante e ensaiado.

"Sofia! Que bom ver-te. Estava a passar por aqui e pensei em dizer olá."

Ela estava vestida com um vestido de verão caro, o seu cabelo perfeitamente penteado. Parecia radiante.

Eu não a convidei a entrar. Apenas fiquei ali, a bloquear a entrada.

"O que queres, Joana?"

O seu sorriso vacilou por um segundo.

"Eu só queria ver como estavas. O Pedro está muito preocupado contigo."

"O Pedro?" repeti, uma risada amarga a escapar dos meus lábios. "Se ele estivesse preocupado, teria vindo ele mesmo."

"Ele está ocupado," disse ela rapidamente. "O trabalho tem sido muito exigente."

"Claro," disse eu, o meu tom seco.

Ficámos em silêncio por um momento. Ela olhou para o meu apartamento por cima do meu ombro, o seu nariz a torcer-se ligeiramente.

"É... acolhedor," disse ela, a sua voz condescendente.

"É a minha casa," respondi, a minha voz firme.

Ela suspirou, a sua fachada a começar a rachar.

"Olha, Sofia, eu vim aqui para te pedir para deixares o Pedro em paz."

Eu olhei para ela, confusa. "Eu deixei-o em paz. Eu divorciei-me dele, lembras-te?"

"Não, tu não deixaste," disse ela, a sua voz a ganhar um tom agudo. "Tu continuas a assombrá-lo. Ele está miserável, e é por tua causa."

Eu não conseguia acreditar no que estava a ouvir.

"Ele está miserável? Eu perdi o meu filho, Joana. O meu corpo ainda está a recuperar. A minha vida desmoronou-se. E tu vens aqui dizer-me que ele está miserável?"

"Tu não és a única que está a sofrer!" ela retorquiu. "Ele também perdeu um filho! E agora ele perdeu a sua esposa. Tudo por causa do teu egoísmo."

"O meu egoísmo?" A minha voz tremeu de raiva. "Eu estava sozinha, Joana! Sozinha e grávida! Enquanto vocês os dois estavam a beber cocktails numa praia em Bali!"

O rosto dela endureceu.

"Tu não sabes de nada. O Pedro e eu temos uma ligação. Uma ligação que tu nunca entenderias."

E então, ela disse as palavras que confirmaram todas as minhas suspeitas.

"Eu amo-o, Sofia. E ele ama-me a mim. Nós vamos ficar juntos."

O mundo pareceu parar. O som do trânsito lá fora desapareceu. Tudo o que eu conseguia ouvir era o zumbido nos meus ouvidos.

"Sai," disse eu, a minha voz perigosamente calma.

"O quê?"

"Eu disse, sai da minha casa. Agora."

Ela olhou para mim, um sorriso triunfante a espalhar-se pelo seu rosto.

"Com prazer. Apenas lembra-te disto: tu perdeste. Eu ganhei."

Ela virou-se e afastou-se, o som dos seus saltos altos a ecoar no corredor.

Fechei a porta e encostei-me a ela, as minhas pernas a tremer.

A dor no meu peito intensificou-se, mas desta vez, foi misturada com algo novo.

Raiva. Uma raiva fria e ardente que prometia consumir tudo no seu caminho.

                         

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