A Chamada Ignorada do Meu Marido
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Capítulo 3

As luzes do teto da urgência passavam a correr por cima de mim enquanto me empurravam num corredor. O caos era controlado, vozes davam ordens, enfermeiros corriam.

"Grávida de 32 semanas, vítima de acidente de viação, hemorragia ativa," ouvi o paramédico a dizer a um médico.

Uma enfermeira colocou-me um acesso intravenoso no braço. Outra media a minha pressão arterial.

E então, eu vi-o.

Do outro lado do corredor, perto da área de espera, estava o Miguel. Ele não estava a usar a sua bata de médico. Estava de pé, com os braços à volta da Sofia, que chorava no seu ombro. Ele acariciava-lhe o cabelo, sussurrando-lhe ao ouvido com uma expressão de profunda preocupação. Parecia o marido mais dedicado do mundo.

Os nossos olhares não se cruzaram. Ele estava completamente absorvido pelo drama da sua meia-irmã e do seu gato perdido.

Uma médica com um rosto cansado mas gentil aproximou-se da minha maca.

"Clara, sou a Dra. Mendes. Vamos fazer uma ecografia de urgência, está bem? Precisamos de ver como está o bebé."

Assenti, incapaz de desviar o olhar da cena no corredor. O meu marido estava a poucos metros de distância, a consolar outra mulher enquanto o nosso filho lutava pela vida.

Levaram-me para uma sala mais pequena. O gel frio na minha barriga fez-me estremecer. A Dra. Mendes moveu o transdutor, o seu rosto concentrado no ecrã. O silêncio na sala era terrível. Não havia o som rápido e ritmado de um coração que eu tanto amava ouvir nas consultas.

A médica parou. O seu rosto era uma máscara de compaixão profissional.

"Clara," começou ela, com a voz suave. "Lamento imenso. O descolamento da placenta foi demasiado severo. O coração do bebé... parou."

O mundo parou de girar. As luzes do teto pareceram escurecer. O som distante das sirenes desapareceu. A única coisa que eu ouvia era um zumbido agudo nos meus ouvidos.

"Precisamos de a levar para o bloco operatório de imediato," continuou a Dra. Mendes. "A sua vida também está em risco."

Eu não respondi. Apenas olhei para a minha barriga. A minha casa. Agora, um túmulo.

                         

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