A tela do meu celular mostrava dezessete chamadas não atendidas, todas para o meu marido, Pedro.
Meu carro estava preso num engarrafamento monstruoso na marginal, causado por um acidente grave mais à frente.
Lá fora, uma chuva fina começava a cair, deixando o ar pesado e úmido.
Eu estava grávida de oito meses e senti uma pontada forte na barriga.
Uma dor aguda, que me fez encolher no banco do motorista.
Respirei fundo, tentando manter a calma, e disquei o número de Pedro pela décima oitava vez.
Desta vez, ele atendeu, mas sua voz estava distante e irritada, abafada por um barulho de fundo que parecia uma festa.
"O que foi, Sofia? Estou ocupado."
"Pedro, estou presa no trânsito na marginal. Acho que o bebê vai nascer. Preciso de você."
Minha voz saiu trêmula, misturada com o som da buzina de um caminhão ao meu lado.
"Nascer? Não seja dramática. Você ainda tem um mês. É só uma dor qualquer."
Ele parecia não acreditar em mim.
"Não, é sério. A dor está forte. O trânsito não anda. Por favor, vem me buscar."
Eu implorei, sentindo outra contração, mais forte que a anterior.
"Sofia, eu não posso sair agora. É o aniversário da Ana, a irmã do meu chefe. Você sabe o quanto essa festa é importante para a minha carreira."
Ana. A irmã do chefe dele.
"Sua carreira é mais importante que o nosso filho?"
A pergunta saiu da minha boca antes que eu pudesse contê-la.
Houve um silêncio do outro lado da linha, depois um suspiro pesado.
"Olha, liga para uma ambulância. Ou para a sua mãe. Eu não posso fazer nada agora. Tenho que ir, estão me chamando."
E ele desligou.
Sem um "se cuida", sem um "me liga depois". Nada.
Olhei para o telefone na minha mão, incrédula. A tela apagou, refletindo meu rosto pálido.
As contrações estavam ficando mais frequentes, mais intensas. O pânico começou a se instalar.
Eu estava sozinha.