Capítulo 3

Pedro apareceu no hospital na manhã seguinte.

Ele trazia um buquê de flores murchas e um sorriso forçado no rosto.

"Oi, campeão."

Ele disse, olhando para o berço sem muito interesse. Nem sequer tocou no bebê.

Ele se virou para mim.

"Você está bem? Parece cansada."

"Eu tive uma cirurgia, Pedro."

Minha voz era fria como gelo.

"É, eu sei. Mas olha, deu tudo certo, não é? O importante é que vocês dois estão bem."

Ele se sentou na poltrona ao lado da cama, checando as mensagens no celular.

"A festa ontem foi um sucesso. O meu chefe adorou a minha ideia para o novo projeto. Acho que uma promoção vem aí."

Ele falava da carreira dele, enquanto nosso filho recém-nascido dormia a poucos metros.

Eu não conseguia acreditar.

"Pedro, eu liguei para você. Eu pedi ajuda. Eu disse que o bebê ia nascer."

"E eu disse que estava ocupado. Você resolveu, não resolveu? Chamou uma ambulância, fez o que tinha que fazer. Mulheres são fortes."

Ele disse isso como se fosse um elogio, mas soou como a maior ofensa que eu já ouvi.

"Eu poderia ter morrido. Nosso filho poderia ter morrido."

"Não seja tão dramática, Sofia. Está tudo bem agora. Não vamos estragar o momento com discussões."

Ele se levantou e veio até mim, tentando me dar um beijo na testa.

Eu virei o rosto.

"Não me toque."

Ele recuou, surpreso e irritado.

"Qual é o seu problema? Eu estou aqui, não estou? Trouxe até flores."

Ele apontou para o buquê patético no canto do quarto.

"Essas flores estão tão mortas quanto o que eu sentia por você."

As palavras saíram antes que eu pensasse.

O rosto dele se fechou.

"Ah, é assim? Depois de tudo que eu faço por essa família? Eu trabalho duro para dar uma vida boa para vocês."

"Que vida boa, Pedro? Uma vida onde você me abandona no momento em que eu mais preciso?"

"Eu não te abandonei! Eu tinha um compromisso profissional!"

Ele elevou a voz. Uma enfermeira passou no corredor e olhou para dentro do quarto.

"Vamos conversar sobre isso em casa."

Ele disse, baixando o tom, claramente constrangido.

"Não."

Eu disse, firme.

"Não temos mais nada para conversar. Eu quero o divórcio."