No dia seguinte, não falei com o Pedro. O silêncio na nossa casa era denso, pesado.
Ele saiu para o trabalho como se nada fosse. Eu fiquei.
Decidi ir a casa da minha sogra, Helena. A Clara ainda vivia com ela.
Eu precisava de ouvir da boca da Clara que ela ia devolver o dinheiro. Eu precisava de acreditar que ainda havia uma solução.
Toquei à campainha. A minha sogra abriu a porta. O sorriso dela desapareceu quando me viu.
"Sofia. Que surpresa. O Pedro não está."
"Eu sei. Vim falar com a Clara."
Ela olhou por cima do meu ombro, como se procurasse o filho. Depois, deixou-me entrar, com relutância.
A Clara estava no sofá da sala, a olhar para o telemóvel, com uma caixa de uma marca de luxo ao seu lado.
Ela nem levantou a cabeça quando eu entrei.
"Clara," comecei eu. "O Pedro disse-me que te emprestou o nosso dinheiro."
Ela encolheu os ombros, sem desviar os olhos do ecrã. "Sim. Ele é um querido, o meu irmão."
"Eu preciso de saber quando pensas devolvê-lo. Tínhamos planos para aquele dinheiro."
Aí, ela finalmente olhou para mim. Um sorriso trocista nos lábios.
"Devolver? Querida, foi um investimento. O Pedro investiu em mim."
A minha sogra, Helena, aproximou-se, pondo a mão no ombro da filha.
"Sofia, não sejas tão materialista. O Pedro fez o que era correto. A família ajuda-se."
"Nós também somos uma família," disse eu, a olhar para as duas. "O Pedro e eu. Aquele dinheiro era para o nosso futuro."
A Helena riu-se, um som agudo e desagradável.
"O Pedro sempre cuidará da irmã dele. E de mim. Ele é um bom filho. Tu, como mulher dele, devias entender e aceitar isso. Não criar problemas."
A Clara levantou-se, altiva.
"Se estás assim tão preocupada com o dinheiro, talvez não devesses ter casado com o meu irmão. Na nossa família, o amor não se mede em euros."
Ela disse aquilo enquanto usava sapatos que custavam mais do que o meu salário de um mês.
Percebi nesse momento. Não havia empréstimo. Não havia investimento.
Havia um roubo. E a família dele era cúmplice.