O Acerto de Contas de Clara
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Capítulo 2

A viagem na ambulância foi um borrão de sirenes e solavancos.

As ruas de Lisboa estavam paradas, um mar de carros e cachecóis vermelhos e azuis.

Cada solavanco era uma nova onda de dor. O paramédico segurava a minha mão, dizia-me para respirar.

Eu só conseguia pensar no Leo, a celebrar um golo enquanto o nosso filho lutava para nascer.

Cheguei ao Hospital de Santa Maria sozinha.

Levaram-me de imediato para uma sala de observação. As enfermeiras moviam-se à minha volta com uma urgência que me assustou.

Uma médica, com um ar sério, examinou-me.

"Há quanto tempo é que a bolsa rompeu?"

"Uma hora, talvez mais", gaguejei.

Ela franziu a testa. "O bebé está em sofrimento. O ritmo cardíaco está a baixar. Temos de fazer uma cesariana de emergência."

Não tive tempo para processar. Assenti, o medo a paralisar-me.

Levaram-me para o bloco operatório. A luz fria por cima de mim foi a última coisa que vi antes de a anestesia me apagar.

Quando acordei, estava num quarto silencioso. A dor na minha barriga era profunda, uma linha de fogo.

O Leo estava ao lado da cama. Cheirava a cerveja e a vitória.

Ele sorriu, um sorriso largo e estúpido.

"Ganhámos! 3-1! Foi um jogo do caraças! Então, como está o nosso campeão?"

Olhei para ele, a mente ainda turva.

A porta abriu-se e a médica entrou. O seu rosto não tinha expressão.

Ela olhou para o Leo, depois para mim.

"Lamento muito. Fizemos tudo o que podíamos."

As palavras dela pairaram no ar, pesadas e impossíveis.

"Devido ao prolapso do cordão umbilical e à demora em chegar ao hospital, o bebé sofreu uma falta de oxigénio prolongada. Não sobreviveu."

O sorriso do Leo desapareceu.

O mundo ficou em silêncio.

            
            

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