A viagem na ambulância foi um borrão de sirenes e solavancos.
As ruas de Lisboa estavam paradas, um mar de carros e cachecóis vermelhos e azuis.
Cada solavanco era uma nova onda de dor. O paramédico segurava a minha mão, dizia-me para respirar.
Eu só conseguia pensar no Leo, a celebrar um golo enquanto o nosso filho lutava para nascer.
Cheguei ao Hospital de Santa Maria sozinha.
Levaram-me de imediato para uma sala de observação. As enfermeiras moviam-se à minha volta com uma urgência que me assustou.
Uma médica, com um ar sério, examinou-me.
"Há quanto tempo é que a bolsa rompeu?"
"Uma hora, talvez mais", gaguejei.
Ela franziu a testa. "O bebé está em sofrimento. O ritmo cardíaco está a baixar. Temos de fazer uma cesariana de emergência."
Não tive tempo para processar. Assenti, o medo a paralisar-me.
Levaram-me para o bloco operatório. A luz fria por cima de mim foi a última coisa que vi antes de a anestesia me apagar.
Quando acordei, estava num quarto silencioso. A dor na minha barriga era profunda, uma linha de fogo.
O Leo estava ao lado da cama. Cheirava a cerveja e a vitória.
Ele sorriu, um sorriso largo e estúpido.
"Ganhámos! 3-1! Foi um jogo do caraças! Então, como está o nosso campeão?"
Olhei para ele, a mente ainda turva.
A porta abriu-se e a médica entrou. O seu rosto não tinha expressão.
Ela olhou para o Leo, depois para mim.
"Lamento muito. Fizemos tudo o que podíamos."
As palavras dela pairaram no ar, pesadas e impossíveis.
"Devido ao prolapso do cordão umbilical e à demora em chegar ao hospital, o bebé sofreu uma falta de oxigénio prolongada. Não sobreviveu."
O sorriso do Leo desapareceu.
O mundo ficou em silêncio.