Capítulo 3

"O quê?" A voz do Leo foi um sussurro. "Como assim, não sobreviveu? O que é que vocês fizeram?"

A médica manteve a sua postura profissional.

"A sua esposa disse que a bolsa rompeu há bastante tempo. Nestes casos, cada minuto conta. Lamento."

Ela saiu, deixando-nos no silêncio ensurdecedor do quarto.

O olhar do Leo virou-se para mim, já não de choque, mas de acusação.

"Porque é que não chamaste a ambulância mais cedo, Clara? Eu disse-te para chamares se fosse a sério!"

Eu não tinha palavras. A minha garganta estava fechada, o meu corpo era uma concha vazia.

A porta abriu-se novamente. Era a mãe dele, Helena, com a Sofia a reboque.

A Helena correu para o Leo, abraçando-o.

"Oh, meu filho! Que tragédia! Eu sempre disse que esta rapariga era descuidada!"

Ela olhou para mim, os seus olhos pequenos e duros.

"O que fizeste, Clara? Não tiveste cuidado? Andaste a fazer esforços?"

A Sofia aproximou-se da cama, o seu rosto uma máscara de falsa simpatia.

"A Clara fica sempre tão dramática com tudo. Provavelmente pensou que era só mais uma dorzinha. Não te culpes, Leo. Tu não tinhas como saber."

Eles formaram um círculo à volta dele, protegendo-o, absolvendo-o.

Eu era a culpada. A mãe negligente. A esposa histérica.

Eles falavam de mim como se eu não estivesse ali, deitada numa cama de hospital com o corpo e a alma rasgados.

O Leo aceitou o consolo deles. Ele nem sequer olhou para mim.

Ele agarrou na mão da mãe e chorou.

"Eu perdi o meu filho, mãe. O meu menino."

Ele disse "meu filho". Não "nosso filho".

Naquele momento, eu percebi. Eu estava completamente sozinha nisto. Sempre estive.