O Diário Que Virou o Jogo
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Capítulo 3

O meu pai chegou pouco depois.

Ele entrou no quarto, o seu rosto vincado de preocupação.

"Ana, minha filha."

Ele abraçou-me com força, e eu desabei. Chorei nos braços dele, soluçando toda a dor e a solidão dos últimos anos.

Ele não disse nada, apenas me segurou, deixando-me chorar.

Quando finalmente me acalmei, ele afastou-se e limpou as minhas lágrimas com o polegar.

"Vamos para casa," disse ele suavemente. "Para a nossa casa."

Assenti, sentindo um alívio imenso.

A alta do hospital foi rápida. Vesti as minhas roupas e, com a ajuda do meu pai, saí daquele lugar frio.

Não vi Leo nem Inês. Eles tinham desaparecido. Melhor assim.

O caminho para a casa dos meus pais foi silencioso. Eu olhava pela janela, as luzes da cidade a passarem como borrões.

Senti-me como se estivesse a acordar de um longo pesadelo.

Quando chegámos, a minha mãe estava à espera na porta. Ela abraçou-me, os seus olhos cheios de lágrimas.

"Oh, minha querida. Sinto muito."

"Não sintas, mãe. Acabou."

Entrei na casa onde cresci. O cheiro a comida caseira e a familiaridade do lugar envolveram-me como um cobertor quente.

Senti-me segura pela primeira vez em muito tempo.

Nos dias seguintes, recuperei lentamente. Física e emocionalmente.

Os meus pais cuidaram de mim, nunca me deixando sozinha.

Leo não me ligou. Nem uma vez.

Em vez disso, recebi uma chamada do advogado dele.

"Sra. Ana, o meu nome é Dr. Almeida. Represento o Sr. Leonardo Bastos."

A sua voz era formal e distante.

"O Sr. Bastos informa que não concorda com o divórcio. Ele espera que reconsidere a sua decisão impulsiva."

"Não é impulsiva," respondi, a minha voz firme. "Eu quero o divórcio."

"Nesse caso," continuou o advogado, "o Sr. Bastos gostaria de a informar que, segundo o vosso acordo pré-nupcial, em caso de divórcio iniciado por si sem uma causa justificada, como adultério, a senhora não terá direito a qualquer parte do património dele."

Claro. O dinheiro. Era sempre sobre o dinheiro.

"Eu não quero o dinheiro dele," disse eu. "Só quero a minha liberdade."

"Entendo. Irei transmitir a sua mensagem. No entanto, o Sr. Bastos insiste que a senhora não tem bases para o divórcio e irá contestá-lo em tribunal."

"Que conteste. Vemo-nos em tribunal."

Desliguei o telefone, o meu coração a bater com força.

Eles iam tornar isto difícil. Eu sabia que iam.

Mais tarde nesse dia, recebi uma série de mensagens. Eram da Sofia, a irmã de Leo.

"Sua interesseira. Achas que vais conseguir um cêntimo do meu irmão? Ele trabalhou muito por tudo o que tem."

"Devias estar grata por ele te ter tirado da miséria."

"Espero que sofras sozinha para o resto da tua vida. Ninguém nunca te vai amar."

Apaguei as mensagens sem responder. As palavras dela já não me atingiam.

Mas depois, o meu pai entrou na sala, o seu rosto pálido.

"Ana... Recebi uma chamada."

"De quem, pai?"

"Do banco. O empréstimo para a oficina... eles cancelaram-no."

Senti o chão a desaparecer debaixo dos meus pés. A oficina do meu pai era o sonho da vida dele. Ele tinha trabalhado anos para conseguir aquele empréstimo.

"Como assim, cancelaram?"

"Disseram que houve uma reavaliação de risco. Mas eu sei... eu sei que foi o Leo. Ele tem contactos no banco."

Leo estava a tentar destruir-nos.

Ele não estava apenas a lutar contra o divórcio. Ele estava a tentar quebrar-me, atacando a minha família.

A raiva substituiu a tristeza. Uma raiva fria e determinada.

Se ele queria guerra, então ia ter uma.

            
            

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