O meu pai chegou pouco depois.
Ele entrou no quarto, o seu rosto vincado de preocupação.
"Ana, minha filha."
Ele abraçou-me com força, e eu desabei. Chorei nos braços dele, soluçando toda a dor e a solidão dos últimos anos.
Ele não disse nada, apenas me segurou, deixando-me chorar.
Quando finalmente me acalmei, ele afastou-se e limpou as minhas lágrimas com o polegar.
"Vamos para casa," disse ele suavemente. "Para a nossa casa."
Assenti, sentindo um alívio imenso.
A alta do hospital foi rápida. Vesti as minhas roupas e, com a ajuda do meu pai, saí daquele lugar frio.
Não vi Leo nem Inês. Eles tinham desaparecido. Melhor assim.
O caminho para a casa dos meus pais foi silencioso. Eu olhava pela janela, as luzes da cidade a passarem como borrões.
Senti-me como se estivesse a acordar de um longo pesadelo.
Quando chegámos, a minha mãe estava à espera na porta. Ela abraçou-me, os seus olhos cheios de lágrimas.
"Oh, minha querida. Sinto muito."
"Não sintas, mãe. Acabou."
Entrei na casa onde cresci. O cheiro a comida caseira e a familiaridade do lugar envolveram-me como um cobertor quente.
Senti-me segura pela primeira vez em muito tempo.
Nos dias seguintes, recuperei lentamente. Física e emocionalmente.
Os meus pais cuidaram de mim, nunca me deixando sozinha.
Leo não me ligou. Nem uma vez.
Em vez disso, recebi uma chamada do advogado dele.
"Sra. Ana, o meu nome é Dr. Almeida. Represento o Sr. Leonardo Bastos."
A sua voz era formal e distante.
"O Sr. Bastos informa que não concorda com o divórcio. Ele espera que reconsidere a sua decisão impulsiva."
"Não é impulsiva," respondi, a minha voz firme. "Eu quero o divórcio."
"Nesse caso," continuou o advogado, "o Sr. Bastos gostaria de a informar que, segundo o vosso acordo pré-nupcial, em caso de divórcio iniciado por si sem uma causa justificada, como adultério, a senhora não terá direito a qualquer parte do património dele."
Claro. O dinheiro. Era sempre sobre o dinheiro.
"Eu não quero o dinheiro dele," disse eu. "Só quero a minha liberdade."
"Entendo. Irei transmitir a sua mensagem. No entanto, o Sr. Bastos insiste que a senhora não tem bases para o divórcio e irá contestá-lo em tribunal."
"Que conteste. Vemo-nos em tribunal."
Desliguei o telefone, o meu coração a bater com força.
Eles iam tornar isto difícil. Eu sabia que iam.
Mais tarde nesse dia, recebi uma série de mensagens. Eram da Sofia, a irmã de Leo.
"Sua interesseira. Achas que vais conseguir um cêntimo do meu irmão? Ele trabalhou muito por tudo o que tem."
"Devias estar grata por ele te ter tirado da miséria."
"Espero que sofras sozinha para o resto da tua vida. Ninguém nunca te vai amar."
Apaguei as mensagens sem responder. As palavras dela já não me atingiam.
Mas depois, o meu pai entrou na sala, o seu rosto pálido.
"Ana... Recebi uma chamada."
"De quem, pai?"
"Do banco. O empréstimo para a oficina... eles cancelaram-no."
Senti o chão a desaparecer debaixo dos meus pés. A oficina do meu pai era o sonho da vida dele. Ele tinha trabalhado anos para conseguir aquele empréstimo.
"Como assim, cancelaram?"
"Disseram que houve uma reavaliação de risco. Mas eu sei... eu sei que foi o Leo. Ele tem contactos no banco."
Leo estava a tentar destruir-nos.
Ele não estava apenas a lutar contra o divórcio. Ele estava a tentar quebrar-me, atacando a minha família.
A raiva substituiu a tristeza. Uma raiva fria e determinada.
Se ele queria guerra, então ia ter uma.