Dois dias depois, a minha mãe foi transferida da UCI para uma enfermaria normal. O inchaço no seu cérebro tinha diminuído, mas ela continuava em coma.
O médico disse que era um bom sinal, mas o caminho para a recuperação seria longo e incerto.
Eu passei cada momento ao seu lado, a falar com ela, a ler para ela, a segurar a sua mão, na esperança de que a minha voz a alcançasse.
O Pedro apareceu algumas vezes, mas as suas visitas eram curtas e tensas. Ele trazia flores, perguntava ao de leve sobre o estado da minha mãe e depois passava a maior parte do tempo ao telemóvel, a tratar de "assuntos urgentes".
A sua família não apareceu de todo.
Numa tarde, o Pedro chegou com uma proposta.
"Sofia, a minha mãe acha que devíamos mudar a tua mãe para um hospital privado. As instalações são melhores, os cuidados são mais especializados."
Fiquei surpreendida. "Um hospital privado? Pedro, sabes quanto isso custa? O seguro da minha mãe não cobre isso."
"Eu sei," disse ele. "Mas a minha mãe está disposta a ajudar. Ela sente-se mal com o que aconteceu."
Eu olhei para ele, desconfiada. A Inês nunca fazia nada por bondade. Havia sempre um motivo oculto.
"Qual é a condição?" perguntei eu.
O Pedro hesitou. "Não é uma condição. É mais um... acordo. A minha mãe paga as despesas médicas. Em troca, ela quer que tu peças desculpa publicamente à Joana e assumas a responsabilidade pelo incidente."
A raiva subiu pela minha garganta, quente e amarga.
"Ela quer comprar a minha dignidade? Ela quer que eu minta e diga a toda a gente que a culpa da queda da minha mãe foi minha, para que a preciosa filha dela possa dormir em paz?"
"Sofia, não é assim," disse ele, a sua voz suplicante. "É pela tua mãe. Pensa nela. Ela merece o melhor tratamento possível."
Ele estava a usar a minha mãe contra mim. A usar o meu amor por ela como uma arma.
"O melhor tratamento não vale a minha integridade," disse eu, com a voz a tremer. "A minha mãe não iria querer que eu fizesse isto. Ela criou-me para ser honesta, para me defender."
"Estás a ser egoísta!" O Pedro levantou a voz. "Estás a colocar o teu orgulho à frente da saúde da tua mãe! O que há de errado contigo?"
"O que há de errado comigo?" Ri-me, um som sem alegria. "O que há de errado contigo, Pedro? Não vês o quão doentia é esta situação? A tua mãe está a tentar manipular-me, e tu estás a ajudá-la!"
Ele recuou, chocado com a minha explosão.
"Eu vou encontrar uma maneira de pagar pelos cuidados da minha mãe," disse eu, a minha decisão a solidificar-se a cada palavra. "Não preciso do dinheiro sujo da tua mãe."
"Sofia..."
"Sai," disse eu, apontando para a porta. "Vai-te embora. Vai consolar a tua irmã. Claramente, é onde o teu coração está."
O Pedro olhou para mim por um longo momento, o seu rosto uma máscara de raiva e frustração. Depois, virou-se e saiu, batendo a porta atrás de si.
Fiquei sozinha no quarto silencioso, o som do monitor cardíaco da minha mãe a marcar o ritmo do meu coração partido.