O Diário Que Revelou a Verdade
img img O Diário Que Revelou a Verdade img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

A primeira coisa que fiz foi ligar ao meu chefe. Expliquei a situação e pedi um adiantamento salarial significativo. Ele foi compreensivo e concordou, transferindo o dinheiro no mesmo dia.

Depois, comecei a vender as minhas coisas.

Comecei pelas joias que o Pedro me tinha dado: o anel de noivado, o colar de aniversário, as pulseiras. Levei-as a uma joalharia e vendi-as por uma fração do seu valor original. O homem atrás do balcão olhou para mim com pena. Eu não queria a sua pena. Queria o seu dinheiro.

Vendi a minha coleção de malas de marca online. Vendi os meus sapatos caros. Vendi o meu portátil e o meu tablet. Cada venda era um pequeno sacrifício, um passo para longe da vida que eu tinha construído com o Pedro.

O meu pai tentou impedir-me. "Sofia, não precisas de fazer isto. Nós damos um jeito."

"Pai, eu preciso," disse eu, a minha voz firme. "Eu não vou deixar que aquela mulher use o dinheiro dela para me humilhar. A mãe não gostaria disso."

Ele viu a determinação nos meus olhos e suspirou, abraçando-me com força. "Tu és igual a ela. Teimosa como uma mula."

Sorri por entre as lágrimas. "Obrigada."

Uma semana depois, eu tinha reunido dinheiro suficiente para cobrir as despesas do hospital por mais um mês. Não era uma solução a longo prazo, mas dava-me tempo.

Durante todo este tempo, o Pedro não me ligou uma única vez.

A sua ausência era um buraco gritante na minha vida. Mas, em vez de dor, senti uma estranha sensação de libertação. Eu estava a lutar as minhas próprias batalhas, a tomar as minhas próprias decisões. Estava a redescobrir uma força que eu não sabia que tinha.

Uma noite, estava sentada ao lado da cama da minha mãe, a mudar o pano húmido na sua testa, quando o telemóvel dela, que estava na mesa de cabeceira, se acendeu.

Era uma notificação de uma aplicação de mensagens que eu não reconheci. Por curiosidade, peguei no telemóvel. A minha mãe nunca me tinha dito a sua palavra-passe, mas por instinto, tentei a data de aniversário do meu falecido avô.

Abriu.

A aplicação era um diário encriptado. O meu coração começou a bater mais depressa. Senti que estava a invadir a privacidade dela, mas algo me impeliu a continuar.

Abri a entrada mais recente, datada do dia do acidente.

O que li fez o meu mundo parar.

"Discuti com a Inês outra vez. Ela veio aqui, a gritar sobre a Sofia. Ela disse que o Pedro merece alguém melhor, alguém que lhe dê um neto. Ela chamou a minha filha de 'infértil' e 'inútil'. Eu não aguentei. Mandei-a embora. Ela empurrou-me. Eu caí e bati com a cabeça na esquina da mesa. A última coisa que vi foi o rosto dela, aterrorizado, antes de ela fugir."

O telemóvel escorregou dos meus dedos e caiu no chão com um baque surdo.

Não foi uma discussão com a Joana.

Não foi uma queda acidental.

A Inês. A minha sogra. Ela tinha empurrado a minha mãe.

Ela tinha-a deixado ali, a sangrar no chão, e fugido.

E depois, ela teve a audácia de me culpar.

Uma fúria fria e calculista apoderou-se de mim. Já não se tratava de orgulho ou dignidade.

Tratava-se de justiça.

                         

COPYRIGHT(©) 2022