O Eco da Ausência
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Capítulo 1

Naquela noite, eu estava no hospital, mas não por causa do parto.

O meu noivo, Pedro, estava ao meu lado, segurando a minha mão com força.

O seu rosto estava pálido.

"Desculpa, Inês. O nosso filho... o nosso filho não sobreviveu."

O meu mundo desabou.

Apenas algumas horas antes, eu tinha ligado para ele, aterrorizada.

"Pedro, a bolsa rompeu! Preciso de ir para o hospital agora!"

A voz dele ao telefone estava tensa, distante.

"Estou a caminho, mas a Ana teve um acidente. O carro dela capotou. Tenho que ir ajudá-la primeiro."

Ana. A sua ex-namorada.

O pânico subiu pela minha garganta.

"Pedro, eu estou em trabalho de parto! O nosso bebé está a chegar! Não podes deixá-lo!"

"Eu sei, eu sei! Mas a Ana está sozinha, ela precisa de mim! Chama uma ambulância, eu encontro-te lá assim que puder."

Ele desligou.

A ambulância demorou uma eternidade a chegar. Quando finalmente cheguei ao hospital, já era tarde demais. O cordão umbilical tinha-se enrolado no pescoço do nosso bebé.

Asfixia.

O meu filho, o meu pequeno Mateus, morreu antes mesmo de poder respirar.

Agora, Pedro estava aqui, a tentar consolar-me.

"Foi um acidente, Inês. Ninguém teve culpa."

Olhei para ele, para o homem que amava, o homem que escolheu salvar a sua ex-namorada em vez do seu próprio filho.

A raiva era uma chama fria dentro de mim.

"Um acidente?", a minha voz saiu como um sussurro rouco. "Tu deixaste-me. Deixaste-nos."

"Eu não te deixei! A Ana podia ter morrido!"

"E o nosso filho? Ele não contava? Ele morreu, Pedro. O nosso filho está morto porque tu não estavas aqui."

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não as sentia. Tudo o que sentia era um vazio imenso.

Pedro não sabia o que dizer. Ele apenas continuava a segurar a minha mão, como se isso pudesse consertar o que estava quebrado.

"O casamento está cancelado", disse eu, com uma clareza que me surpreendeu.

Ele olhou para mim, chocado.

"O quê? Inês, não fales assim. Estamos ambos a sofrer. Não podemos tomar decisões precipitadas."

"Não é precipitado. Acabou, Pedro. Acabou no momento em que escolheste outra pessoa em vez da tua família."

Ele abriu a boca para protestar, mas o meu telemóvel tocou.

Era a minha futura sogra, a mãe do Pedro. Atendi, colocando no altifalante.

A voz dela era aguda e cheia de acusação.

"Inês! O que é que fizeste? O Pedro disse-me que o bebé se foi! Como é que foste tão descuidada? Uma mãe devia saber como proteger o seu filho!"

            
            

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