Capítulo 4

Duas semanas depois, recebi uma chamada de um número desconhecido.

Hesitei, mas atendi.

"Inês? Sou eu, a Ana."

A sua voz era fraca, hesitante.

O meu sangue gelou.

"O que é que tu queres?"

"Eu só... eu só queria dizer que sinto muito. Pelo teu bebé. Eu não sabia..."

"Não sabias o quê? Que eu estava grávida de nove meses? Que o meu noivo era o teu ex-namorado que correu para te salvar?"

O silêncio do outro lado da linha foi a sua resposta.

"Olha, Inês, o Pedro disse-me que estás a culpá-lo, que terminaste tudo. Não foi culpa dele. Eu estava em pânico. Eu liguei-lhe."

"Claro que ligaste. E ele foi a correr."

"Ele é uma boa pessoa. Ele preocupa-se com as pessoas."

"Ele não se preocupou com o filho dele."

"Isso não é verdade! Ele está destroçado! Ele mal come, mal dorme. Ele só fala de ti e do... do Mateus."

Ouvir o nome do meu filho nos lábios dela foi como uma facada.

"Não te atrevas a dizer o nome dele."

A minha voz era baixa, perigosa.

"Desculpa", sussurrou ela. "Eu só pensei que se soubesses o quanto ele está a sofrer, talvez o perdoasses."

"Perdoá-lo? Para quê? Para que ele possa fazer o mesmo outra vez? Para que da próxima vez que eu precisar dele, estejas com uma dor de cabeça e ele tenha que te levar uma aspirina?"

"Isso é cruel."

"Cruel é o que aconteceu ao meu filho. Tu não sabes nada sobre crueldade."

Desliguei o telefone e atirei-o para o sofá.

As minhas mãos tremiam.

Então era este o plano deles. Enviar a Ana, a vítima inocente, para interceder por ele. Para me fazer sentir culpada por estar zangada.

A audácia deles era inacreditável.

Eles não entendiam. Isto não era sobre perdoar um erro.

Isto era sobre uma escolha.

Pedro tinha estado numa encruzilhada. De um lado, a sua noiva em trabalho de parto, o nascimento do seu filho. Do outro, a sua ex-namorada com um problema.

E ele virou para o lado errado.

Essa escolha definiu tudo. Definiu quem ele era. Definiu quem nós éramos.

E mostrou-me que, para ele, eu e o nosso filho nunca seríamos a prioridade.