O Eco da Ausência
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Capítulo 3

Passei os dias seguintes num nevoeiro de dor e burocracia.

Assinar papéis. Falar com médicos. Organizar um funeral para um bebé que nunca conheci.

A minha mãe veio de outra cidade para ficar comigo. O seu abraço silencioso foi a única coisa que me deu algum conforto.

O Pedro tentou ligar dezenas de vezes. Envieu mensagens. Apareceu à porta do meu apartamento.

Eu não atendi. Não respondi. Pedi à minha mãe para lhe dizer que fosse embora.

Uma semana depois do funeral, ele apareceu no meu trabalho.

Eu sou designer de interiores e estava a tentar voltar à normalidade, a focar-me num projeto para um novo café.

Ele esperou por mim no estacionamento.

"Inês, precisamos de conversar."

Eu continuei a andar em direção ao meu carro.

"Não temos nada para conversar, Pedro."

Ele bloqueou o meu caminho.

"Por favor. Eu estou a sofrer tanto como tu."

"Não, não estás", disse eu, olhando-o nos olhos. "Tu não o sentiste a mexer dentro de ti. Tu não passaste por um trabalho de parto para dar à luz o silêncio."

A sua expressão vacilou.

"Isso não é justo."

"Justo? Queres falar sobre o que não é justo? O nosso filho está morto, Pedro. E tu estavas a segurar a mão de outra mulher."

"Ela estava em choque! O carro dela estava destruído!"

"E eu? O que é que eu estava? Numa festa?"

A minha voz subiu de tom, atraindo os olhares de algumas pessoas que passavam.

"Eu cometi um erro", admitiu ele, a sua voz a quebrar. "Eu sei. Eu devia ter estado contigo. Eu arrependo-me todos os dias."

"O teu arrependimento não o traz de volta."

Abri a porta do meu carro, mas ele segurou o meu braço.

"Podemos superar isto. Juntos. Podemos tentar de novo."

Tentar de novo? Como se um bebé fosse algo que se pudesse substituir?

Puxei o meu braço com força.

"Nunca mais me toques. Acabou. Fica com a Ana. Fica com a tua mãe. Fiquem todos juntos e deixem-me em paz."

Entrei no carro e tranquei as portas.

Ele bateu no vidro, a sua cara contorcida em desespero.

"Inês! Eu amo-te!"

Liguei o motor, o som a abafar as suas palavras.

Enquanto me afastava, vi-o pelo espelho retrovisor, parado no meio do estacionamento, uma figura de derrota.

Não senti pena.

Senti apenas um alívio frio.

            
            

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