Naquela noite, estava prestes a dar à luz o nosso filho.
O meu noivo, Pedro, prometeu estar ao meu lado.
Mas a bolsa rompeu, e com o pânico, liguei-lhe.
A sua voz, que eu esperava ser de apoio, tornou-se distante, tensa.
"A Ana teve um acidente. O carro dela capotou. Tenho que ir ajudá-la primeiro."
Ana. A sua ex-namorada.
Deixou-me. Deixou-nos.
A ambulância demorou uma eternidade e, quando cheguei ao hospital, já era tarde demais.
O cordão umbilical enrolou-se no pescoço do nosso bebé.
O meu pequeno Mateus morreu antes mesmo de respirar.
A dor era avassaladora, mas o que veio a seguir foi ainda pior.
Pedro, o homem que escolheu a sua ex-namorada em vez do nosso filho, tentou consolar-me: "Ninguém teve culpa."
Mas a sua mãe não pensou assim.
Pelo telefone, com Pedro ao meu lado, ela gritou: "Como é que foste tão descuidada? Uma mãe devia saber como proteger o seu filho!"
"Eu fui descuidada?", a minha voz tremeu, a raiva a ferver.
"Tiveste que entrar em trabalho de parto exatamente nesse momento, sabendo que ele tinha que ir ajudar a pobre da Ana?"
O meu filho morreu e fui acusada de egoísmo e negligência.
Eles queriam me fazer sentir culpada pela minha própria tragédia.
Não consegui entender a crueldade, a audácia.
Por que ele a protegeu, e não a mim?
Por que fui abandonada e depois culpada pela morte do nosso filho?
Não haveria lugar para perdão.
Eu cancelei o casamento, expulsei-o da minha vida.
Mas o pior ainda estava por vir.
Meses depois, recebi uma mensagem assustadora da Ana.
Ela queria revelar a verdadeira história daquela noite.
E a verdade era muito mais sombria do que eu podia imaginar.