Quando o médico me disse que a minha mãe precisava de uma cirurgia de bypass cardíaco de emergência, o meu mundo desabou.
A minha mão tremia enquanto eu tentava ligar para o meu marido, Pedro.
Ele estava numa viagem de negócios em Lisboa, mas esta era uma emergência. Eu precisava dele.
O telefone tocou incessantemente, ecoando o pânico no meu peito.
Finalmente, ele atendeu. A sua voz estava distante, misturada com o som de risos e música ao fundo.
"Lia? O que se passa? Estou numa reunião importante com um cliente."
"Pedro, é a mãe," a minha voz falhou. "Ela teve um ataque cardíaco. Os médicos dizem que ela precisa de uma cirurgia de bypass agora mesmo. Eu preciso que voltes para casa."
Houve uma pausa do outro lado da linha.
"Uma cirurgia de bypass? Isso soa sério. Quanto custa?"
Fiquei chocada com a sua primeira pergunta.
"Não sei exatamente, talvez uns vinte mil euros? Pedro, o dinheiro não é o problema agora, eu preciso de ti aqui."
"Vinte mil?" ele assobiou. "Lia, isso é muito dinheiro. E eu não posso simplesmente largar tudo aqui. Este negócio é crucial para a empresa."
De repente, ouvi uma voz feminina familiar ao fundo, rindo.
"Pedro, querido, com quem estás a falar? Vem, o nosso jantar está a arrefecer."
Era a voz da minha cunhada, a sua irmã mais nova, Sofia.
O que é que ela estava a fazer com ele numa "viagem de negócios crucial"?
"Pedro, a Sofia está aí contigo?" perguntei, o meu tom a ficar gélido.
Ele hesitou. "Sim, ela veio para me ajudar com a apresentação. Olha, Lia, eu sei que estás preocupada, mas a tua mãe é forte. Ela vai ficar bem. Sê uma boa menina e cuida de tudo. Eu vou tentar voltar assim que fechar este negócio."
"Pedro, eu não te estou a pedir para tentares. Estou a dizer-te para voltares para casa. Agora!"
"Não sejas irracional, Lia," ele retorquiu, a sua paciência a esgotar-se. "Estou a fazer isto por nós, pelo nosso futuro. Não posso simplesmente ir embora. Fala com o médico, vê se eles podem esperar um ou dois dias."
Antes que eu pudesse responder, ele desligou.
Fiquei a olhar para o telefone, incrédula.
A minha mãe estava a lutar pela vida, e o meu marido estava mais preocupado com um negócio e a jantar com a irmã dele.
A porta da sala de espera abriu-se e a minha sogra, a Dona Isabel, entrou a correr, com o rosto cheio de preocupação.
"Lia, querida! Como está a tua mãe? O Pedro ligou-me, disse que era grave."
Senti uma pequena onda de alívio. Pelo menos ela importava-se.
"Ainda não sei, Dona Isabel. Eles estão a prepará-la para a cirurgia."
Ela agarrou nas minhas mãos. "Não te preocupes, querida. O Pedro é um bom filho. Ele disse-me que ia fechar um grande negócio para pagar a cirurgia da tua mãe. Ele ama-te tanto, a ti e à tua mãe."
As palavras dela soaram ocas.
Um grande negócio? Ele tinha-me dito que não podia pagar.
Naquele momento, eu soube.
Eu estava sozinha nisto.
E talvez, estivesse sozinha no meu casamento há muito mais tempo do que pensava.