Dois dias depois, o Pedro e a Sofia voltaram.
Entraram em casa como se nada tivesse acontecido, a rir de uma piada qualquer.
O Pedro carregava uma mala de luxo e a Sofia exibia um novo relógio caro.
Eu estava sentada na sala de estar, à espera deles. A casa estava silenciosa.
"Lia! Estamos de volta!" O Pedro sorriu, vindo na minha direção para me beijar.
Eu afastei-me.
O sorriso dele vacilou. "O que se passa? Como está a tua mãe?"
"Ela está bem. A cirurgia correu bem," eu disse, a minha voz sem emoção.
"Vês? Eu disse-te que ela ia ficar bem," ele disse, aliviado. "Tu preocupas-te demasiado."
A Sofia largou as suas malas de compras no chão. "A sério, Lia, precisavas de ser tão dramática? O Pedro quase cancelou a viagem por tua causa. Felizmente, eu convenci-o a ficar. Aquele negócio era demasiado importante."
"Sim, o negócio," eu disse, olhando diretamente para o Pedro. "O negócio que te fez esvaziar a nossa conta conjunta de 30.000 euros."
O rosto do Pedro ficou pálido. A Sofia engoliu em seco.
"Como é que sabes disso?" ele gaguejou.
"Eu precisei do dinheiro para a cirurgia da mãe, Pedro. A cirurgia que tu me disseste para adiar. Tive de vender as minhas joias para pagar por ela."
O silêncio na sala era pesado.
"Lia, eu posso explicar," ele começou. "O dinheiro... foi um investimento. Para a empresa. Para nós."
"Um investimento na conta bancária da Sofia?" perguntei calmamente.
O choque nos rostos deles foi a minha confirmação.
"Tu... tu verificaste?" A Sofia sussurrou, horrorizada.
"Não precisei. Vocês os dois não são tão subtis como pensam."
O Pedro recuperou a compostura, a sua expressão endurecendo.
"Está bem, sim. Eu transferi o dinheiro para a Sofia. Foi para o manter seguro! Tu és impulsiva com o dinheiro, eu tinha medo que o gastasses todo no hospital."
"Mantê-lo seguro? Gastando-o em malas de luxo e relógios caros?"
"Isso foi um bónus pelo sucesso do negócio!" A Sofia interveio, defensivamente. "Nós merecemo-lo! Trabalhámos arduamente!"
Eu ri. Um riso seco e sem alegria.
"Vocês os dois são inacreditáveis."
Virei-me para o Pedro. "Eu quero o divórcio."
O rosto dele contorceu-se de raiva. "Divórcio? Não sejas ridícula, Lia. Por causa de um pequeno mal-entendido? Depois de tudo o que fiz por ti e pela tua mãe?"
"O que fizeste pela minha mãe? Tu deixaste-a para morrer!"
"Isso não é verdade! Eu ia pagar por tudo assim que voltasse!"
"Com que dinheiro, Pedro? O dinheiro que deste à tua irmã?"
Ele não tinha resposta.
A Dona Isabel, que deve ter ouvido os gritos, entrou na sala.
"O que se passa aqui? Lia, porque é que estás a gritar com o meu filho?"
"O seu filho esvaziou a nossa conta bancária e deu o dinheiro à Sofia, enquanto a minha mãe estava na mesa de operações," eu disse-lhe diretamente.
A Dona Isabel olhou para o Pedro, depois para a Sofia.
"Pedro, isso é verdade?"
"Mãe, foi para um investimento!" ele insistiu.
A Dona Isabel virou-se para mim, a sua expressão severa. "Lia, um casamento tem altos e baixos. Tu tens de confiar no teu marido. Ele é o homem da casa. Ele sabe o que é melhor para a família."
Eu olhei para os três. A família unida. O clã Patterson.
E eu era a estranha.
"Está bem," eu disse, a minha voz calma. "Sem divórcio. Vocês têm razão."
O alívio inundou os seus rostos.
"Mas," continuei, "o Pedro tem de me devolver os 30.000 euros. E mais 5.000 euros pelos danos emocionais e pelas minhas joias."
O Pedro riu-se. "Estás a sonhar. Não te vou dar um cêntimo."
"Não é um pedido, Pedro. É uma condição."
"Ou então o quê?" ele zombou.
Eu sorri. Um sorriso genuíno pela primeira vez em dias.
"Ou então, vou contar ao teu chefe, o Sr. Almeida, sobre o 'investimento' que fizeste com o dinheiro da empresa."