"O que é que ela fez por mim?", perguntei, virando-me para ela. "Ela tolerou-me na minha própria casa. Ela tentou convencer o meu pai a colocar-me num colégio interno. Ela criticou todas as minhas escolhas. Isso não é fazer algo por mim, é fazer algo contra mim."
Sofia ficou pálida. "Isso não é verdade! Eu sempre te quis bem!"
"Poupem-me das vossas mentiras," disse eu, sentindo um cansaço profundo. "Eu quero que saiam. Agora."
Elas não se mexeram, apenas me encararam com uma mistura de ódio e choque. A porta da frente abriu-se novamente. Era o Pedro.
Ele entrou a correr, o rosto vermelho de raiva. "O que raio se passa aqui? A Laura ligou-me a dizer que as estás a expulsar!"
Ele parou à minha frente, a sua presença imponente. Por um momento, senti uma pontada de medo, mas desapareceu tão rapidamente como veio.
"É verdade," confirmei. "Esta é a minha casa. Elas têm de sair."
"Tu perdeste a cabeça?", gritou ele. "Onde é que elas vão? A Sofia não tem para onde ir! Tu vais deitá-las na rua?"
"Isso não é problema meu," disse eu friamente. "Ela pode ir viver contigo e com a tua mãe. Tenho a certeza de que vocês se darão lindamente."
A mão do Pedro levantou-se como se me fosse bater, mas ele parou a meio do movimento, cerrando o punho. A sua respiração era pesada.
"Inês, para com isto. Vamos falar. Eu sei que estás magoada..."
"Magoada?", interrompi-o. "Não, Pedro. Eu não estou magoada. Eu estou a ver as coisas claramente pela primeira vez. Eu vi quem tu realmente és. E não gosto do que vejo."
Tirei o anel de noivado do meu dedo. O diamante brilhava sob a luz fraca da sala. Parecia pesado, uma mentira brilhante.
Estendi-lhe a mão. "Pega. Não o quero mais."
Ele olhou para o anel, depois para o meu rosto. A sua raiva pareceu desvanecer-se, substituída por uma súbita incerteza.
"Inês, não faças isto. Nós amamo-nos."
"Não," disse eu. "Tu amas a ideia de mim. Amas a conveniência. Mas não me amas a mim. Se me amasses, terias estado lá para mim."
Ele não pegou no anel. Então, deixei-o cair na sua mão. O metal frio tocou a sua pele por um instante antes de eu recuar.
"Agora, por favor, leva-as contigo e sai da minha casa."
Pedro olhou para Sofia e Laura, que o observavam com expectativa. Ele parecia encurralado. Finalmente, suspirou, um som de derrota.
"Está bem. Nós vamos. Mas vais arrepender-te disto, Inês. Vais ficar sozinha e vais perceber o erro que cometeste."
"Eu já estou sozinha," disse eu. "A diferença é que agora escolhi estar."
Ele pegou nos braços de Sofia e Laura e guiou-as para a porta. Antes de sair, virou-se uma última vez.
"Eu vou ligar-te amanhã, quando tiveres arrefecido a cabeça."
Eu não respondi. Apenas observei enquanto ele fechava a porta atrás de si, deixando-me no silêncio absoluto da minha casa agora verdadeiramente minha.