Na manhã seguinte, fiz as minhas malas.
Não havia muito para levar. As minhas roupas, os meus livros, o meu computador portátil. A mobília, a casa, a vida que construímos juntos, tudo isso podia ficar para trás.
Eram apenas coisas.
Quando estava prestes a sair, o Pedro entrou pela porta. Ele parecia exausto. Os seus olhos estavam vermelhos, e ele não tinha feito a barba.
Ele olhou para as malas junto à porta, e depois para mim.
"Marta, o que estás a fazer?"
"Estou a sair," disse eu simplesmente.
"Não sejas ridícula. Conversamos sobre isto. Estás chateada, eu percebo. Mas não podes simplesmente ir embora."
"Sim, posso," respondi, pegando na minha mala. "Na verdade, é muito fácil. Vês?"
Ele bloqueou o meu caminho, a sua mão no meu braço. O seu toque era firme.
"A Sofia teve alta do hospital. Ela não tem para onde ir. Eu trouxe-a para cá. Ela vai ficar no quarto de hóspedes por uns dias."
Eu olhei para ele, incrédula. A audácia dele era de cortar a respiração.
"Tu trouxeste-a para a nossa casa?"
"Ela precisa de supervisão," ele disse, defensivo. "Ela não pode ficar sozinha agora."
Nesse momento, a Sofia apareceu atrás dele. Ela estava pálida e magra, vestindo uma das camisolas do Pedro. As ligaduras nos seus pulsos eram brancas e visíveis.
Ela olhou para mim com olhos grandes e tristes. "Marta... desculpa. Eu não queria causar problemas."
A voz dela era fraca, um sussurro.
Eu olhei do Pedro para ela. Eles pareciam um casal a lidar com uma crise. Eu era a intrusa.
"Não te preocupes, Sofia," disse eu, a minha voz fria como gelo. "Não vais causar mais problemas. Eu estou de saída."
Afastei a mão do Pedro do meu braço e passei por eles.
"Marta, espera!" gritou o Pedro.
Não parei. Continuei a andar, saí pela porta da frente e não olhei para trás.
O ar fresco da manhã encheu os meus pulmões. Senti-me livre.