Não Olhei Para Trás
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Capítulo 1

Eu estava a cozinhar quando o meu marido, Pedro, me ligou.

"Ana, despacha-te e vai para o hospital. A Sofia sofreu um acidente de carro."

A espátula caiu da minha mão, batendo com força no chão da cozinha. O meu coração parou por um instante.

"O quê? Como é que ela está? É grave?"

A minha voz tremia.

"Não sei os detalhes, o trânsito está um caos. O pai dela, o meu chefe, o Sr. Almeida, está desesperado. Eu estou a caminho para o ajudar. Tu conheces bem a Sofia, vai lá e acalma a situação. Leva o cartão do banco, não te preocupes com o dinheiro."

Antes que eu pudesse responder, ele desligou.

Olhei para a sopa de galinha a ferver no fogão, que eu tinha preparado durante horas para a minha mãe. Ela tinha uma cirurgia cardíaca importante no dia seguinte.

Hesitei, mas a urgência na voz de Pedro convenceu-me. A minha mãe estava estável por agora, mas a Sofia, a minha melhor amiga e filha do chefe do meu marido, precisava de mim.

Peguei na minha mala e corri para o hospital.

Quando cheguei, o corredor da urgência era um pandemónio. Encontrei a Sofia sentada num banco, com um arranhão no braço e a chorar nos braços da sua mãe.

O Sr. e a Sra. Almeida olharam para mim com alívio.

"Ana, ainda bem que vieste," disse a Sra. Almeida. "A Sofia não para de chorar, está muito assustada."

Fui até ela. "Sofia, o que aconteceu? Estás bem?"

Ela levantou a cabeça, os olhos vermelhos. "Ana, o meu carro... ficou completamente destruído. Foi horrível."

Examinei-a. Para além do arranhão e do choque evidente, ela parecia fisicamente bem. O médico confirmou que eram apenas ferimentos leves e um grande susto.

Respirei fundo, aliviada. Nesse momento, o meu telemóvel tocou. Era o hospital onde a minha mãe estava internada.

Atendi rapidamente.

"Senhora Ana? Sou a enfermeira do quarto da sua mãe. Ela está a sentir uma forte dor no peito, o ritmo cardíaco está instável. O médico precisa de falar consigo com urgência. Pode vir agora?"

O meu sangue gelou.

"Estou a ir, estou a caminho!"

Virei-me para os Almeida, a minha voz era um fio. "Tenho de ir. A minha mãe não está bem."

O Sr. Almeida franziu a testa. "Mas e a Sofia? Ela precisa de ti."

"É uma emergência. A minha mãe..."

"Toda a gente tem emergências," interrompeu ele, com um tom frio. "O Pedro não te disse para ficares aqui? A Sofia está traumatizada. A tua presença é importante para ela."

Olhei para ele, incrédula. Olhei para a Sofia, que me olhava com olhos suplicantes. E olhei para o Pedro, que tinha acabado de chegar e ouviu a última parte da conversa.

Ele aproximou-se e agarrou-me no braço.

"Ana, não sejas egoísta. O Sr. Almeida tem razão. A tua mãe tem enfermeiras, a Sofia só te tem a ti. Fica."

A sua voz era baixa, mas cheia de uma pressão que eu conhecia demasiado bem.

            
            

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