Cheguei ao outro hospital ofegante, com o peito a arder.
A enfermeira encontrou-me na receção. "Senhora Ana, finalmente. O estado da sua mãe piorou subitamente. O Dr. Mendes quer falar consigo."
O Dr. Mendes levou-me para o seu consultório. A sua expressão era grave.
"A sua mãe teve uma complicação séria. A arritmia ficou descontrolada. Precisamos de a operar de emergência, agora mesmo."
Senti o chão a fugir debaixo dos meus pés. "Agora? Mas a cirurgia não era amanhã?"
"Não podemos esperar. O risco de uma paragem cardíaca é demasiado alto. Preciso da sua autorização para o procedimento imediato."
Ele empurrou uma prancheta com um formulário na minha direção. As minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a caneta.
"Sim, claro, façam o que for preciso."
Assinei o papel, a minha assinatura um risco ilegível.
Enquanto a levavam para o bloco operatório, consegui vê-la por um segundo. Estava pálida, com uma máscara de oxigénio no rosto, mas os seus olhos encontraram os meus. Ela tentou sorrir.
Sentei-me na sala de espera, um espaço frio e silencioso. As horas arrastavam-se. Cada minuto era uma tortura.
O meu telemóvel começou a tocar incessantemente. Era o Pedro.
Recusei a primeira chamada. E a segunda. E a terceira.
Depois vieram as mensagens.
"Onde te meteste? Estás a envergonhar-me!"
"A Sofia não para de perguntar por ti. Volta já para aqui."
"Ana, atende a porra do telefone. Se não voltares, não te quero ver em casa hoje."
Ignorei tudo. O meu mundo inteiro estava atrás daquela porta do bloco operatório.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, a luz vermelha apagou-se. O Dr. Mendes saiu, o rosto cansado, mas com um leve sorriso.
"A cirurgia correu bem. Ela está estável. Foi uma sorte termos agido tão depressa. Mais uma hora e talvez não a conseguíssemos salvar."
A tensão no meu corpo desfez-se de uma só vez. Caí na cadeira, a chorar de alívio.
"Obrigada, doutor. Muito, muito obrigada."
"Ela é forte," disse ele. "Agora precisa de descansar."
Quando finalmente tive coragem para olhar para o telemóvel, tinha 17 chamadas não atendidas do Pedro e uma última mensagem.
"Acabou. Quando eu chegar a casa, quero as tuas coisas fora de lá."