"Egoísta?"
A palavra ecoou na minha cabeça.
Olhei para o aperto firme da mão de Pedro no meu braço. Depois olhei para o Sr. Almeida, cuja expressão dizia que a minha obediência era esperada, não pedida.
"A minha mãe vai fazer uma cirurgia ao coração amanhã. Ela está a ter uma crise. Eu preciso de ir."
A minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
A Sra. Almeida suspirou, um som teatral. "Oh, querida, que pena. Mas olha para a nossa Sofia. O choque pode deixar marcas para a vida. Um pouco de companhia agora faz toda a diferença."
Sofia fungou, encostando-se mais à mãe. "Ana, por favor, não vás. Estou com tanto medo."
O meu telemóvel vibrou novamente na minha mão. A mesma enfermeira. O meu pânico aumentou.
Pedro apertou mais o meu braço. "Ana, para com isto. Pensa na minha carreira. O Sr. Almeida está a oferecer-me uma promoção. Não estragues tudo por um capricho."
Um capricho. A vida da minha mãe era um capricho.
Puxei o meu braço com força, libertando-me.
"A tua promoção vale mais que a minha mãe?"
Os olhos de Pedro escureceram. "Não digas disparates. A tua mãe vai ficar bem. Agora sê razoável."
"Razoável?" Ri, um som seco e sem alegria. "Eu estou a ser muito razoável. Estou a ir ver a minha mãe."
Virei-lhes as costas e comecei a andar, quase a correr, pelo corredor.
Ouvi o Sr. Almeida dizer com desdém, "Pedro, parece que não consegues controlar a tua mulher."
E a resposta de Pedro, fria e cortante, seguiu-me.
"Não se preocupe, senhor. Vou resolver isto."
Não olhei para trás. Continuei a correr, o som dos meus passos a ecoar a batida descontrolada do meu coração.