O Abandono no Corredor: A Mãe Que Luta
img img O Abandono no Corredor: A Mãe Que Luta img Capítulo 1
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Capítulo 1

O meu nome é Sofia. Sou médica. E este é o dia em que o meu casamento acaba.

Eu estava no meio de uma cirurgia cardíaca complexa quando o hospital inteiro tremeu.

As luzes piscaram violentamente e um alarme estridente soou pelos corredores.

"Código Vermelho! Código Vermelho! Desabamento estrutural na ala pediátrica! Repito, desabamento na ala pediátrica!"

O meu coração parou.

A minha filha, a minha pequena Eva de cinco anos, estava na ala pediátrica.

Ela estava lá para um simples check-up de rotina.

O meu bisturi tremeu na minha mão. O meu assistente, Dr. Mendes, olhou para mim com os olhos arregalados.

"Dra. Sofia, a sua filha..."

"Continue a sutura," ordenei, a minha voz soando estranhamente calma, quase robótica. "Não podemos perder este paciente."

Entreguei os instrumentos ao Mendes, as minhas mãos a moverem-se com uma precisão que não sentia.

Cada segundo parecia uma eternidade. A minha mente estava dividida. Uma parte estava a guiar o Mendes através dos passos finais, a outra estava a gritar, a correr pelos corredores desabados, a procurar a minha filha.

Assim que o último ponto foi dado e o peito do paciente foi fechado, arranquei as minhas luvas ensanguentadas.

"Assuma o controlo," disse eu ao Mendes, sem esperar por uma resposta.

Corri para fora da sala de cirurgia como uma louca, ainda com a minha bata cirúrgica.

O caos reinava. Poeira, gritos, o cheiro a betão partido e a medo.

A ala pediátrica era uma zona de desastre. Uma parte do teto tinha cedido. Pessoal médico e pais corriam freneticamente.

E então eu vi-o.

O meu marido, Pedro.

Ele estava no meio dos escombros, segurando uma criança nos braços.

Mas não era a Eva.

Era o Leo, o filho da sua chefe, a Sra. Almeida.

Ele estava a entregar cuidadosamente o Leo a uma enfermeira, o seu rosto uma máscara de preocupação heróica.

"Pedro!" gritei, a minha voz a rasgar a minha garganta. "Onde está a Eva? A nossa filha!"

Ele virou-se, e por um segundo, vi pânico nos seus olhos. Um pânico que não era pelo desastre, mas por me ver ali.

"Sofia! Eu... eu não a consegui encontrar," gaguejou ele. "A Sra. Almeida estava a ligar-me, desesperada. O Leo estava preso debaixo de uma viga. Eu tive de o tirar primeiro."

"Primeiro?" A palavra saiu como um veneno. "Onde está a Eva, Pedro?"

"Eu não sei! Eu estava a caminho dela quando a Sra. Almeida me ligou a chorar!"

O seu telemóvel tocou naquele exato momento. O nome "Sra. Almeida" brilhava no ecrã.

Ele atendeu instantaneamente.

"Sim, Sra. Almeida. Sim, o Leo está seguro. Eu tirei-o de lá. Não se preocupe, eu estou aqui. Vou certificar-me de que ele recebe os melhores cuidados."

Ele falava com ela com uma calma e uma segurança que nunca usava comigo.

Desliguei. O meu mundo tinha ficado em silêncio.

Virei-me e corri de volta para os escombros, gritando o nome da Eva até os meus pulmões arderem.

Foi então que uma voz fraca chamou por mim.

"Mãe..."

Vinha de debaixo de um grande pedaço de parede de gesso, perto da área de recreação.

"Eva!"

Com uma força que não sabia que tinha, comecei a puxar os destroços com as minhas próprias mãos. As unhas partiram-se, os dedos sangraram, mas eu não senti nada.

Finalmente, vi-a.

A sua perna estava presa debaixo de uma estante de metal caída, dobrada num ângulo que não era natural.

Ela estava pálida, mas olhou para mim e tentou sorrir.

"Eu sabia que me ias encontrar, mãe."

            
            

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