O mundo desabou.
A pessoa em quem eu mais confiava, a pessoa que me prometeu que éramos uma equipa, fazia parte da mentira.
Afastei-me dele, um passo de cada vez.
"Como pudeste?"
A minha voz era um sussurro rouco.
"Eva, os teus pais vieram ter comigo. Eles explicaram a situação. Eles estavam desesperados."
"Desesperados? E a solução deles foi mentir-me? Enganar-me? Usar o próprio filho como isco?"
A raiva começou a queimar o choque, uma fúria fria e cortante.
"Eles não te queriam perder. Sabiam que se te dissessem a verdade sobre a Inês, talvez não ajudasses."
"Talvez? Eles nem sequer me deram a oportunidade de escolher! Eles trataram-me como uma ferramenta, um saco de medula óssea sem vontade própria!"
Eu estava a gritar agora, o som a ecoar no corredor vazio do hospital.
Miguel tentou aproximar-se, as mãos estendidas.
"Por favor, acalma-te. Vamos falar sobre isto."
"Falar? Não há nada para falar!"
Virei-lhe as costas e comecei a andar, sem rumo.
Ele seguiu-me.
"Eva, eu amo-te. Eu só não queria ver-te magoada."
Parei e virei-me para ele, uma risada amarga a escapar dos meus lábios.
"Não querias ver-me magoada? Então mentir foi a tua melhor ideia? Deixaste-me entrar neste ninho de víboras a pensar que eras o meu porto seguro. Eras apenas mais uma delas."
As suas palavras de amor soavam ocas, manchadas pela traição.
"O que é que querias que eu fizesse?"
"A verdade, Miguel! Eu só queria a maldita verdade!"
Deixei-o ali parado e fui direta ao quarto do Leo.
Ele estava a dormir, a respiração suave. Parecia tão pequeno, tão frágil.
A minha raiva dissolveu-se numa onda de tristeza.
Ele também era uma vítima nisto tudo. Eles estavam a brincar com a vida dele também.
Sentei-me ao lado da sua cama e segurei a sua mão. Estava fria.
Os meus pais entraram no quarto.
A minha mãe sorriu ao ver-me.
"Querida, estás aqui. Vieste ver o teu irmão?"
O meu pai assentiu, uma rara expressão de aprovação no rosto.
"Isso é bom. A família tem de se manter unida nestes momentos."
Eu levantei-me lentamente, o meu olhar a passar de um para o outro.
"Família?", repeti, a palavra a saber a veneno na minha boca.
"Vamos parar com o teatro. Eu sei de tudo."