O Adeus Que Salvou Minha Alma
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Capítulo 1

O médico tirou os óculos manchados de sangue e disse-me com um tom cansado, "Fizemos o nosso melhor, mas o seu filho não sobreviveu."

O meu mundo desabou.

Apenas algumas horas antes, o meu filho ainda estava a mexer-se na minha barriga.

O meu marido, Miguel, tinha-me empurrado escada abaixo.

Ele não o fez de propósito. Estava apenas com pressa para ir consolar a sua ex-namorada do liceu, Clara.

Peguei no meu telemóvel com as mãos a tremer.

O ecrã estava estilhaçado, mas ainda funcionava.

Abri o WhatsApp e vi a mensagem que tinha enviado ao Miguel há uma hora: "Estou a sangrar muito. O bebé... pode não sobreviver."

Abaixo, havia uma resposta dele, enviada há apenas um minuto: "Para de fazer birra, Sofia. A Clara está com febre alta e precisa de mim. Já chamei uma ambulância para ti, não chames mais."

Uma ambulância? Ele não chamou nenhuma.

Foi a minha vizinha que me ouviu a gemer e chamou ajuda.

Se não fosse por ela, eu teria sangrado até à morte no chão frio.

Senti um aperto no peito, uma dor surda que se espalhava.

O meu filho tinha-se ido. O meu casamento... também tinha de acabar.

Respirei fundo e liguei ao Miguel.

A chamada foi atendida rapidamente. A voz ansiosa do Miguel soou, mas não era para mim. "Clara, bebé, já tomaste o remédio? A febre baixou?"

Uma pausa, depois a voz fraca e mimada de Clara. "Miguel, a minha cabeça dói tanto. Podes ficar comigo? Tenho tanto medo de estar sozinha."

"Claro, claro, não vou a lado nenhum," o Miguel acalmou-a, a sua voz cheia de uma ternura que ele nunca me tinha mostrado.

Ele parecia ter-se esquecido que estava numa chamada comigo.

"Miguel," disse eu, a minha voz rouca.

Ele pareceu sobressaltado, como se só agora se lembrasse da minha existência. A sua ternura desapareceu, substituída por uma irritação fria.

"O que queres? Já não te disse que a Clara está doente? Porque é que tens de ser tão insensível?"

"O nosso filho morreu," anunciei calmamente, cada palavra a parecer um pedaço de vidro na minha garganta.

Houve um silêncio do outro lado da linha.

Depois, o Miguel disse com uma voz tensa, "Sofia, não é altura para piadas. A Clara precisa de mim."

"Eu não estou a brincar," insisti, a minha voz a quebrar. "Eu perdi o bebé. Miguel, vamos divorciar-nos."

A sua raiva explodiu. "Divórcio? Estás a falar a sério? Só porque eu estou a cuidar de uma amiga doente? Onde está a tua compaixão? Eu sabia que não devia ter esperado nenhuma de ti!"

Ele continuou, a sua voz a subir, "Tu provavelmente caíste de propósito só para chamar a minha atenção, não foi? És assim tão desesperada? Para de ser tão egoísta!"

As suas palavras atingiram-me. Egoísta? Eu estava deitada numa cama de hospital, a chorar a perda do meu filho, e ele chamava-me egoísta.

"Eu não caí de propósito," sussurrei. "Tu empurraste-me."

"Eu não te empurrei!" ele gritou. "Eu só te afastei do caminho porque estava com pressa. Se fosses mais cuidadosa, nada disto teria acontecido. A culpa é tua!"

Com isso, ele desligou.

Olhei para o telefone na minha mão. O ecrã escuro refletia o meu rosto pálido e os meus olhos vazios.

As lágrimas que eu tinha segurado finalmente rolaram pelas minhas bochechas.

Ele tinha razão numa coisa. Se o meu bebé ainda estivesse aqui, eu poderia ter tentado perdoá-lo. Eu teria feito qualquer coisa para dar ao meu filho uma família completa.

Mas agora, não havia mais nada a que me agarrar.

            
            

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