O médico tirou os óculos manchados de sangue e disse-me: "Fizemos o nosso melhor, mas o seu filho não sobreviveu."
Apenas horas antes, o meu bebé mexia-se dentro de mim.
O meu mundo desabou, estilhaçado pela crueldade do meu marido, Miguel.
Ele empurrou-me escada abaixo, não por raiva, mas por pressa.
Com pressa de ir consolar a sua ex-namorada, Clara, que "precisava" dele por causa de uma febre.
Enquanto eu sangrava no chão, desesperada, implorando por ajuda, enviei-lhe uma mensagem: "Estou a sangrar muito. O bebé... pode não sobreviver."
A resposta dele? "Para de fazer birra, Sofia. A Clara precisa de mim."
Ele não chamou nenhuma ambulância. Fui abandonada.
Quando liguei para lhe dar a notícia devastadora, ele estava a acalmar a "doente" Clara com uma ternura que nunca me demonstrou.
Ao saber da morte do nosso filho, ele gritou, acusando-me: "Para de fazer piada! És egoísta! Tu caíste de propósito só para chamar a minha atenção, não foi?"
Até a minha sogra, a quem eu chamava "mãe", me atacou, chamando a perda do meu filho de "um pequeno acidente" e a mim de "manipuladora".
Eu? manipuladora? Egoísta? Depois de perder o meu bebé por causa da sua indiferença?
Deitada na cama fria do hospital, sozinha, sem o meu bebé, sem o meu marido, eu chorei.
Mas no fundo do abismo, uma raiva gélida acendeu-se.
Então, a porta abriu-se e o meu irmão, Tiago, apareceu, a sua expressão endurecida pela dor e pela fúria.
"Ele vai pagar por isto," disse ele, a sua voz baixa e controlada. "Ambos vão."