A Coragem de Desmascarar
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Capítulo 4

Encontrei-me com a Ana num café pequeno e mal iluminado. Ela olhava constantemente para a porta, os seus dedos a brincar com um guardanapo de papel.

"O Miguel estava limpo," disse ela, sem rodeios. "Ele estava há três meses sem tocar em nada. Estava orgulhoso disso."

"A polícia encontrou drogas," contestei, embora quisesse acreditar nela.

"Foi uma armadilha," insistiu a Ana. "Ele descobriu algo. Algo sobre o trabalho dele."

O meu coração acelerou. "O armazém?"

A Ana assentiu, os seus olhos arregalados. "Sim. Ele disse que o teu marido... o Pedro... estava envolvido em algo ilegal. Algo a ver com a demolição e licenças de construção. Ele disse que o Pedro estava a pagar a pessoas para ignorar problemas de segurança e contaminação do solo."

Tudo começou a fazer sentido de uma forma terrível. O projeto do Pedro. A sua ambição desmedida. O seu desprezo pelo Miguel.

"O Miguel tinha provas," continuou a Ana. "Ele guardou documentos, e-mails. Ele ia entregá-los a um jornalista. Ele disse-me na noite em que morreu que ia encontrar-se com alguém no dia seguinte."

"Ele disse-te onde guardou essas provas?" perguntei, a minha voz um sussurro.

Ela abanou a cabeça. "Não. Ele só disse que estava num lugar seguro, um lugar que só ele e tu conheceriam."

Um lugar que só ele e eu conheceríamos.

A minha mente correu pelas nossas memórias de infância. A nossa casa antiga, o parque onde brincávamos, a cabana na árvore que construímos.

E depois lembrei-me. A caixa de memórias.

Quando éramos crianças, tínhamos uma caixa de metal onde guardávamos os nossos "tesouros". BDs velhas, pedras que achávamos bonitas, a nossa primeira foto juntos. Escondemo-la debaixo de uma tábua solta no chão do quarto do Miguel, na casa dos nossos pais, onde a nossa mãe ainda vivia.

"Eu sei onde está," disse eu, levantando-me de repente.

"Tem cuidado, Sofia," avisou a Ana. "Se o Pedro fez aquilo ao Miguel, ele não vai hesitar em magoar-te."

Eu sabia que ela tinha razão. Mas o medo já não importava. A única coisa que importava era a justiça para o Miguel.

                         

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