Minha Vida Sem Você, Pedro
img img Minha Vida Sem Você, Pedro img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Dois dias depois, recebi alta do hospital. A Laura ainda precisava de ficar em observação.

Assim que cheguei a casa, a casa que partilhava com o Pedro, senti um vazio. Estava tudo arrumado, limpo demais. Silencioso demais.

Não havia sinal dele.

Fui direta ao nosso quarto e comecei a fazer as minhas malas. Peguei apenas no essencial: roupas, documentos, algumas fotografias antigas da minha mãe.

Enquanto dobrava uma camisola, encontrei um recibo no bolso de um dos casacos do Pedro.

Era de uma joalharia. A data era de há uma semana. A descrição: "Colar de Ouro com Pingente de Gato".

O meu coração parou por um segundo.

Um colar de gato. Para a Sofia, claro. O gato dela chamava-se Miau.

Então, não foi um impulso de momento. Ele já andava a encontrar-se com ela. A comprar-lhe presentes.

Senti uma náusea. A traição era mais profunda do que eu imaginava.

Peguei no recibo e guardei-o na minha carteira. Provas. Era disso que eu precisava.

Continuei a fazer as malas com uma fúria fria. Cada peça de roupa, cada objeto que eu tocava, parecia contaminado.

Quando estava quase a acabar, a porta da frente abriu-se.

Era o Pedro.

Ele parou no corredor quando me viu com as malas. O rosto dele mostrava surpresa, depois irritação.

"O que estás a fazer?"

"O que te parece?" respondi, sem olhar para ele. "Estou de saída."

Ele aproximou-se, a sua sombra cobriu-me.

"Ana, para com isto. Já chega de drama. Eu sei que estás chateada, mas..."

"Chateada?" Virei-me para ele, finalmente. "Pedro, 'chateada' é o que se sente quando o café está frio. O que eu sinto é outra coisa."

Mostrei-lhe o recibo.

"Explica-me isto."

Ele olhou para o papel na minha mão. Por um instante, vi pânico nos olhos dele. Mas desapareceu tão rápido como apareceu, substituído por uma atitude defensiva.

"É um presente. Para a minha prima. Ela estava a passar por uma fase má. Qual é o problema?"

"O problema, Pedro, é que a tua mulher estava prestes a entrar numa sala de operações para doar um rim à irmã, e tu estavas a comprar jóias para outra mulher."

"Não fales assim da Sofia! Ela não tem nada a ver com isto!"

"Não? Então porque é que estavas com ela durante o incêndio? Porque é que a salvaste a ela e não atendeste as minhas chamadas?"

"Eu já te disse! Foi uma coincidência! Eu estava perto!"

"Mentira," disse eu, com a voz baixa e cortante. "Tu mentes tão facilmente. Já nem te dás ao trabalho de inventar mentiras credíveis."

Ele passou a mão pelo cabelo, um gesto de frustração que eu conhecia bem.

"Ouve, eu cometi um erro. Ok? Eu devia ter-te ligado de volta. Peço desculpa. Mas o divórcio? Isso é um exagero, Ana. Pensa na Laura."

"Eu estou a pensar nela. E estou a pensar em mim. E cheguei à conclusão de que estamos melhor sem ti."

Fechei a mala com um clique alto.

"Eu vou para um hotel. O meu advogado vai entrar em contacto contigo."

Virei-lhe as costas e comecei a andar em direção à porta.

Ele agarrou-me no braço. A força dele surpreendeu-me.

"Tu não vais a lado nenhum." A voz dele era um aviso. "Nós vamos resolver isto."

"Larga-me, Pedro."

"Não. Tu não me vais deixar. Depois de tudo o que eu fiz por ti e pela tua irmã..."

"O que tu fizeste por nós?" ri-me, um som amargo. "Tu toleraste-nos. Isso não é a mesma coisa que amar-nos."

Puxei o meu braço com força. O aperto dele magoou-me.

"Acabou, Pedro."

Saí porta fora, sem olhar para trás. O som da porta a bater atrás de mim foi o som mais libertador que alguma vez ouvi.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022