Minha Vida Sem Você, Pedro
img img Minha Vida Sem Você, Pedro img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

O advogado que contratei, o Dr. Mendes, era um homem baixo e calvo, com olhos perspicazes que pareciam ver através de tudo.

Mostrei-lhe o recibo da joalharia.

"Isto ajuda," disse ele, ajeitando os óculos. "Mas adultério é difícil de provar em tribunal sem mais evidências. Ele pode sempre dizer que era um presente de família."

"Eu sei que ele me traiu," disse eu. "Eu sinto."

"Sentimentos não contam em tribunal, minha senhora. Precisamos de factos."

Ele juntou as pontas dos dedos.

"O seu marido é bombeiro, disse-me. Um herói local, especialmente depois deste incêndio. A opinião pública vai estar do lado dele."

"Então, o que eu faço?"

"Paciência," disse o Dr. Mendes. "Homens como o seu marido, que se sentem no direito de fazer o que querem, acabam sempre por cometer um erro. Nós só temos de estar lá para o apanhar."

Saí do escritório dele a sentir-me um pouco mais forte. Ter um plano ajudava.

Nos dias seguintes, concentrei-me em visitar a Laura no hospital. Ela estava a recuperar bem. O novo rim estava a funcionar, e a cor estava a voltar ao rosto dela.

"Ainda não falaste com o Pedro?" perguntou-me ela um dia.

"Não. E não vou falar."

"Ana, talvez devesses reconsiderar. Ele... ele parecia gostar tanto de ti."

"Parecer não é o mesmo que ser, Laura."

Ela suspirou. "Eu só não quero que fiques sozinha por minha causa."

"Isto não é por tua causa," disse eu, com firmeza. "Isto é por minha causa. Por causa do respeito que eu mereço e não recebi."

Uma semana depois do meu encontro com o advogado, recebi uma chamada de um número desconhecido.

"Estou a falar com a Ana?" A voz era de uma mulher, hesitante.

"Sim, sou eu."

"O meu nome é Carla. Eu sou... eu sou enfermeira no hospital central. Eu estava de serviço no dia do incêndio."

O meu coração acelerou.

"Sim?"

"Eu vi o seu marido," continuou ela. "O bombeiro Pedro. Ele trouxe uma mulher com queimaduras na mão."

"A minha prima, Sofia. Sim, eu sei."

"O que talvez não saiba," disse a enfermeira, e a sua voz baixou, "é que eles não pareciam primos. Ele beijou-a. Na sala de espera. Quando pensava que ninguém estava a ver."

Fiquei em silêncio. O ar pareceu ficar rarefeito.

"Porque é que me está a dizer isto?" consegui perguntar.

"Porque o meu ex-marido fez-me o mesmo," disse ela, com a voz carregada de uma dor antiga. "E ninguém me avisou. Achei que devia saber. Há câmaras de segurança na sala de espera. Se o seu advogado pedir as gravações..."

"Obrigada," disse eu, com a voz embargada. "Muito obrigada."

Desliguei o telefone e respirei fundo.

O Dr. Mendes tinha razão. Ele cometeu um erro. E agora, eu ia apanhá-lo.

                         

COPYRIGHT(©) 2022