Renascer das Cinzas: Sem Rim, Com Coração
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Capítulo 3

Voltei para casa sentindo-me vazia. A casa estava como a deixei, silenciosa e fria.

Subi para o meu quarto e comecei a fazer as malas. Não havia muito para levar. As minhas roupas, alguns livros, as poucas coisas que eram verdadeiramente minhas.

Enquanto dobrava uma camisola, o meu telemóvel tocou. Era a minha mãe.

"Clara? Onde estás? O teu pai disse que saíste."

"Estou em casa", respondi, a minha voz monótona.

"Ótimo. Podes ir ao supermercado? A Sofia está com desejos de gelado de morango, e eu não posso deixar o hospital."

Gelei. Gelado de morango. O meu sabor preferido. O sabor que Lucas me comprava sempre que eu estava triste.

"Não", disse eu, a minha voz firme.

Houve um silêncio chocado do outro lado da linha. "O que queres dizer com 'não'?"

"Quero dizer não. Não vou comprar gelado para a Sofia. Se ela quer gelado, que o Lucas lho compre."

"Não fales assim! O Lucas está ocupado. E a tua irmã está a recuperar de uma cirurgia muito séria!"

"Eu também estou a recuperar de uma cirurgia muito séria, mãe. Ou já te esqueceste?"

"Isso é diferente. Tu estavas saudável. A Sofia estava doente."

A lógica dela era tão distorcida que me deixou sem palavras. Para ela, eu era apenas um meio para um fim. A minha dor, o meu sacrifício... não significavam nada.

"Estou a fazer as malas, mãe", disse eu, mudando de assunto.

"A fazer as malas? Para onde vais?"

"Vou-me embora. Divorciei-me do Lucas."

"O quê?!", gritou ela. "Divorciaste-te? Sem falar connosco? Clara, o que é que te deu na cabeça? O Lucas é o melhor que já te aconteceu!"

"Ele dormiu com a minha irmã, mãe. Ele enganou-me."

"Isso são detalhes! Ele cuida de nós! Ele pagou as nossas dívidas! O que é uma pequena indiscrição comparado com isso?"

Uma pequena indiscrição. Foi assim que ela chamou à traição que destruiu a minha vida.

"Não posso mais fazer isto, mãe. Não posso viver nesta casa, a fingir que somos uma família feliz."

"Não sejas egoísta! Onde é que vais viver? O que vais fazer para ganhar a vida? Vais voltar a ser uma empregada de mesa falida?"

As suas palavras eram cruéis, destinadas a magoar. E magoaram.

"Isso não te diz respeito", respondi, a minha voz a tremer.

"Claro que me diz respeito! Vais envergonhar-nos a todos!"

"Mais vergonha do que a Sofia a roubar o marido da irmã? Não me parece."

Desliguei a chamada antes que ela pudesse responder. O meu coração batia descontroladamente. As minhas mãos tremiam.

Terminei de fazer as malas rapidamente. Peguei na minha carteira e nas chaves do meu carro antigo, o único bem que o Lucas não tinha considerado digno de ser levado.

Quando estava a sair, o meu pai entrou em casa. Ele olhou para as minhas malas e depois para mim.

"O que é isto?", perguntou ele.

"Vou-me embora."

Ele suspirou, um som cansado. "Clara, a tua mãe ligou-me. Ela está muito perturbada."

"Eu também estou, pai. Mas parece que ninguém se importa com isso."

Ele passou a mão pelo cabelo. "Olha, eu sei que as coisas estão complicadas. O Lucas e a Sofia... eles cometeram um erro."

"Um erro? Pai, isto não foi um erro. Foi um plano. E vocês fizeram parte dele."

Ele desviou o olhar. "Nós só queríamos o melhor para as duas."

"Não. Vocês queriam o melhor para a Sofia. Eu era apenas um dano colateral."

Ele não negou. O seu silêncio foi a única confirmação de que eu precisava.

"Adeus, pai."

Virei-me e caminhei em direção à porta.

"Clara, espera", chamou ele. "Para onde vais?"

Parei, mas não me virei. "Não sei. Mas para qualquer lugar longe daqui."

Saí e não olhei para trás. Entrei no meu carro e afastei-me da casa que nunca tinha sido verdadeiramente um lar. Enquanto conduzia sem rumo, as lágrimas que eu tinha segurado por tanto tempo finalmente começaram a cair.

Eu estava sozinha, sem dinheiro e com uma cicatriz que me lembraria para sempre da minha traição. Mas pela primeira vez em muito tempo, eu estava livre.

            
            

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