Capítulo 4

Contratar um advogado foi o passo seguinte. O Dr. Mendes era um homem mais velho, com olhos simpáticos que tinham visto de tudo.

"Anulação ou divórcio?", perguntou ele, depois de eu lhe ter contado a história.

"Divórcio", respondi sem hesitar. "Quero cortar todos os laços."

Ele acenou com a cabeça. "Vai ser complicado. Ele vai lutar contra isto. Vai tentar fazer-te parecer a má da fita."

"Eu sei."

E ele tinha razão. Assim que o João recebeu os papéis do divórcio, a guerra começou.

Ele ligou-me, a gritar.

"Um divórcio? A sério, Ana? Depois de tudo o que eu fiz por ti?"

"O que é que tu fizeste por mim, João?", perguntei calmamente.

"Eu amei-te! Dei-te tudo! E tu deitas tudo fora por causa de um mal-entendido!"

Depois vieram as chamadas da família dele. A sua mãe, Helena, chorou ao telefone.

"Ana, por favor, reconsidera. Estás a destruir o meu filho. Ele não come, não dorme. Ele ama-te tanto."

O pai dele foi mais direto. "Isto é inaceitável. Estás a envergonhar a nossa família. Se não retirares isto, vais ver."

Até os nossos amigos em comum tomaram partido. A maioria ficou do lado dele.

"O João é um tipo tão bom, Ana. Ele nunca te magoaria de propósito."

"A Sofia é muito instável. Ele estava apenas a ser um bom ser humano."

Comecei a duvidar de mim mesma. Será que eu estava a exagerar? Será que eu era a pessoa fria e sem coração que todos diziam que eu era?

Então, recebi uma mensagem. Era de um número desconhecido.

"Fica longe do João. Ele é meu."

Sofia.

A mensagem era infantil, mas enviou um arrepio pela minha espinha. Era uma prova de que isto não era apenas sobre o João ser um "bom samaritano".

Havia algo mais profundo, algo que eu tinha escolhido ignorar durante demasiado tempo.

Mostrei a mensagem ao meu advogado.

"Guarda isto", disse o Dr. Mendes. "Vamos precisar de tudo o que tivermos."

O processo de divórcio arrastou-se. O João recusou-se a cooperar. Ele contestou tudo, desde a divisão dos bens até à própria razão do divórcio.

A sua estratégia era clara: esgotar-me. Financeira e emocionalmente.

Ele queria que eu desistisse e voltasse para ele, de joelhos.

Mas cada tática que ele usava apenas fortalecia a minha resolução.

Eu não ia ceder.