Na noite do meu casamento, o meu marido, João, não apareceu.
Fiquei sentada sozinha no nosso quarto de hotel, o vestido de noiva branco a parecer um sudário.
O telefone tocou incessantemente. Eram os meus pais, os pais dele, os convidados. Não atendi nenhuma chamada.
Em vez disso, liguei para o número dele, uma e outra vez.
Ninguém atendeu.
Abri as redes sociais, o meu dedo a tremer. A primeira coisa que vi foi uma publicação da ex-namorada dele, a Sofia.
Era uma fotografia. Ela estava deitada numa cama de hospital, o rosto pálido, mas com um sorriso fraco. A legenda dizia: "Obrigada por estares aqui quando mais precisei de ti. Sem ti, não sei o que faria."
A mão que segurava a dela na fotografia era inconfundível. Tinha a mesma aliança de casamento que eu tinha acabado de colocar.
Era a mão do João.
O meu coração sentiu-se pesado, uma sensação oca no meu peito.
Finalmente, por volta da meia-noite, a porta do quarto abriu-se.
O João entrou, ainda a usar o seu fato de casamento, mas cheirava a desinfetante de hospital.
Ele não olhou para mim. A sua voz era fria, distante.
"A Sofia tentou suicidar-se. Tive de ir para o hospital."
Não havia pedido de desculpas. Nenhuma explicação para ter abandonado o nosso casamento. Apenas um facto seco.
"Ela está bem?", perguntei, a minha própria voz a soar estranha aos meus ouvidos.
"Ela está estável agora, mas está muito fraca. Precisa que alguém cuide dela", disse ele, começando a desapertar a gravata.
Senti um nó na garganta. "E quanto a nós? João, hoje é o dia do nosso casamento."
Ele finalmente olhou para mim, e os seus olhos estavam cheios de irritação.
"Podes parar de ser tão egoísta? A vida de uma pessoa estava em risco. O nosso casamento é só uma formalidade. Podemos celebrar noutro dia. A Sofia não pode esperar."
As suas palavras foram diretas, sem qualquer calor.
"Uma formalidade?", repeti, a incredulidade a tomar conta de mim. "Nós planeámos isto durante um ano. As nossas famílias, os nossos amigos, todos estavam lá."
"E o que querias que eu fizesse? Deixá-la morrer?", ele retorquiu, a sua voz a subir de tom. "Ela ligou-me, a chorar, a dizer que não conseguia viver sem mim. Eu era a única pessoa que ela tinha."
"E eu? Quem é que eu tenho, João?", a minha voz quebrou.
"Tu tens a tua família. Estás bem. A Sofia está sozinha e frágil. Não sejas tão insensível, Ana. Eu esperava mais de ti."
Ele virou-me as costas, pegou numa muda de roupa e dirigiu-se para a casa de banho.
"Onde vais?", perguntei, já a saber a resposta.
"Vou voltar para o hospital. A mãe dela está a caminho, mas não quero deixá-la sozinha até lá."
Ele nem sequer hesitou.
Fiquei ali, imóvel, a olhar para a porta fechada da casa de banho. O vestido de noiva parecia apertar-me, a sufocar-me.
Este era o homem com quem eu tinha acabado de me casar. O homem que prometeu amar-me e proteger-me.
Mas no momento mais importante das nossas vidas, ele escolheu outra pessoa. E fez com que parecesse que a culpa era minha por me sentir magoada.